Andava cercando o parceiro há dias... Numa hora espremida entre um salgadinho gorduroso e uma cerveja na chuva resolveu abrir-se. Uma tentativa de se livrar de situações estranhamente presentes. Situações que não lhe pertenciam...
- Nada.Quero nada.
- Sabe como se sabe disso?
- Não.
- Quando o perfume não se mostra nas horas, e as cores derramam-se das coisas, assim bem honestamente.- Ele mantinha os olhos escuros de raiva anterior, e as doces palavras a escorrer como que um encanto. O dono das contradições mais deliciosas.
- Como assim honestamente?
- Sabe o que é sinceridade?
- Soube um dia desses...
- Pois é, é quase a mesma coisa.
- Como é que cabe um quase dentro da sinceridade?
- Do mesmo jeito que cabe uma dúvida no amor.
- Tipo perhaps?
- Não.
- Então me mostra...
- Não.
Levantou-se raivosa atravessando a calçada suja. Vestiu uma jaqueta jeans: chovia naquela noite e achava a jaqueta um detalhe urbano excepcional. Um sorriso desesperado de quem não sabe ou não quer sair do áporo. Vício. Passados alguns ônibus a antiga dor no peito a perturbava. Praguejando contra a constelação de Orion, que supostamente a protegia, levantou-se e decidiu caminhar. Maldito José Matias!
Dois quarteirões depois entrava no carro.
Um beijo desesperado.
De volta ao áporo, velho vício de drama de novela.
Um comentário:
parabéns pelo texto, Laís.
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