segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Part.indo o ser. Parte II (tronco)

Expirou... Transpirou, pairando sempre no ar os seus movimentos iguais às ondas de um lago qualquer de foto de calendário europeu, ondas feitas por alguma pedrinha jogada a esmo... Uma pedrinha que carregava algum peso inominável.
Ainda estava parada, ainda ainda, esperando algum alguém, esperando algum quando quanto, esperando qualquer onde que tirasse seu corpo daquela angústia: não notava o próprio poder, não notava e nem queria notar que crescera, que o tempo nunca vai ser feito de um primeiro, são segundos e mais segundos que não esperam por nada.
Doía-lhe o peito. Uma dorzinha aguda bem entre os seios pequenos... sentia essa dor a cada hora indecisa, a cada grito não dado, a cada choro preso. Maldita dor... talvez que fosse só uma impressão essa expressão corpórea: o que quer dizer meu peito?
Levantou-se, e respirou dolorosamente, com as mãos livres e os sentidos atados continuou a caminhar...Queria estar contaminada da anestesia geral que a cidade havia tomado, queria rever os amigos que não haviam sido anestesiados, queria partilhar a dor no peito, queria brutas flores... Brutas flores nos desertos delirantes do sem fim que é sentir: pra quê anestesiar o que se há de melhor, o que se é de maior?
Não, nunca quis anestesia... de repente ela explode multicolorida...
Sempre foi maior.
Sempre viveu no limiar das palavras grandiosas... , sempre inerente às metafísicas da vida, viva vida beija flor...
Atravessou mais uma rua imunda, um automóvel passa e ela se vê refletida, não pôde ver os olhos, viu apenas os lábios, o tórax, e se esforçou para ver sua dor refletida no vidro que se borrava de chuva, tudo se borrava de chuva naquele instante...
Queria sucumbir de joelhos e beber da água que descia ácida do céu.
Era sim uma cicatriz na Terra.

(continua...)

Nenhum comentário: