quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Aos ipês floridos no caos

Hoje me agride o lirismo ufanista
me cansei de flores coloridas e perfeição
quero a falha
lamber o sangue e as feridas

Hoje o que me faz poesia
é o calor subindo do asfalto
a explosão dentro do grito
real, cru e seco

Hoje o humano me toca
no cerne e na carne,
quase sempre quente,
no olho violentado
da imundície do crepúsculo

Hoje, no desafio da lógica,
fazer do concreto música e poesia,
só me cansa o lirismo do impossível
literatura de beira de abismo
amor invisível ao chão

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Luto.

Olha, eu só queria espalhar aos quatro ventos que vou viver a plenos pulmões por eles, e eles vão viver para sempre.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sobral 07/ 09 / 09

A fuligem dos carros
incomoda minhas narinas
e suja meus pés

Nesta sacada
o vento passa
e sutilmente
leva nossas vidas

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os aviões do planalto

Hoje eu estava numa parada de ônibus às 6 e 37 da manhã quando um avião passou riscando o céu. Me espantei e imediatamente pensei: vem de Brasília. Estranho, mas eu vou explicar... A primeira vez que vi um avião decolar eu era bem pequena, e foi aqui mesmo em Teresina, naquele aeroporto que até hoje (vinte e poucos anos depois) ainda tem um único portão de embarque. Eu fui lá para embarcar uma tia que morou e mora a vida inteira na capital brasileira, e vez ou outra nos visitava em inconstâncias da vida. Cresci acompanhando idas e vindas da família nômade, que hoje entendo das mudanças, mas na época eram um atrativo a mais na brincadeira de menina: montar e desmontar malas, casas, vidas... Na adolescência fui crescendo vendo meus primos indo e voltando quase que anualmente, momentos de lágrimas e confidências eternas do florescer da maturidade, noites em claro, festas, brincadeiras... o avião pousava chegando de Brasília, o avião decolava em direção a Brasília, sempre esse mesmo rumo, na chegada a festa, na ida o choro. Por morar na zona sul de Teresina, quando eu chegava em casa ainda podia ver o avião riscando o céu, indo para a Brasília que só fui visitar depois dos 15 anos, e particularmente não entendi o atrativo que aquela cidade exercia sobre meus familiares... desencantos à parte vejo que ainda hoje, qualquer avião que cruze o céu acima de minha cabeça estará indo ou voltando do planalto central.