Indicação da L-nise, e resolvi participar: afinal de contas linkar nunca é demais... faz bem pro blog. Regras: 6 coisas sobre mim, 6 indicações. (simples demais)
1- Canto bem alto quando estou sozinha. Tão bom... 2- Cubro meu pescoço quando vou dormir, tenho medo de vampiros. 3- Calço 38. 4- Levo sempre uma leitura ao banheiro. 5- Adoro me apaixonar. 6- Tive muito medo de me tornar mãe. Hoje tenho medo de me tornar uma mãe ruim.
Deitada no sofá, naquela pose bem retrô, cabelos quase atravessando o chão, olhos caídos e densos. Se mantinha com a postura leve, mas os passos e mãos pareciam amarrados sempre que possível, tradução do improvável, manipulação: jogos de armar. Gostava de se esconder na noite pesada. Plúmbea madrugada, morada da cor de seus olhos loucos. Nascida em flor azul, traduzida de línguas extintas, línguas mortas, esculpida em colunas gregas, em face ao mar, cheiro de orvalho salgado. E sucumbia a qualquer insano prazer, mas na medida de suas indagações resolvia/revolvia feridas no compasso acelerado da volta à realidade comum responsável: era sua melhor fotografia. Se fosse possível olhar agora seria notável sua pose grave, os olhos rasgados na face. A boca esculpida em pedra fria guardava quente veneno, perdas e danos de uma criatura inconstante. Escandalosamente espalha sorrisos pelo vento numa tentativa desesperada de curar o desapique do peito. No meio de tantos suplícios, no travesseiro das lamentações, no decorrer da história em tinta preta, encontrou o brilho de outros olhos atenciosos. Estes seus que sempre marejavam diante da extensão insuportável que pode ser a vida, estes seus olhos que muito trabalharam na focalização do belo... estavam ali, brilhando frente à luz. O amor é formidável.
Me assusto todas as vezes que encontro trechos de músicas de Chico Buarque no mundo virtual de amigos. As traduções cruéis de desconfortos, desagravos e desapiques de relacionamentos amorosos é recorrente dentro da língua poética (maravilhosa) de Chico, principalmente em se tratando do lado feminino.
Não, solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar
Maltratando, exibindo a alma, ou repetindo versos feitos de quando nos perdemos uns dos outros...
Éramos nós Estreitos nós Enquanto tu És laço frouxo Tira as mãos de mim Põe as mãos em mim
E vê se a febre dele Guardada em mim
Te contagia um pouco
Não vou colocar trecho nenhum de olhos nos olhos, crueldade por crueldade fica o trecho acima, ou abaixo:
De todas as maneiras que há de amar Nós já nos amamos Com todas as palavras feitas pra sangrar Já nos cortamos Agora já passa da hora, tá lindo lá fora Larga a minha mão, solta as unhas do meu coração Que ele está apressado E desanda a bater desvairado Quando entra o verão
Qualquer um cantarolando Chico estremece a alma do parceiro ( se este puser no dia um mínimo de sensibilidade é claro), e numa separação qualquer o bom e velho bonitão de meia idade está lá, sussurrando as palavras certas, as traduções mais precisas...
Vou chegar A qualquer hora ao meu lugar E se uma outra pretendia um dia te roubar Dispensa essa vadia Eu vou voltar Vou subir A nossa escada, a escada, a escada, a escada Meu amor eu, vou partir De novo e sempre, feito viciada Eu vou voltar
É por essas e outras que me preocupo. Quando se recorre a Chico não existe outra explicação senão: foi uma pancada muito forte, uma dor muito aguda ( redundâncias à parte), uma torturante hora que não permitiu pensamentos, e o Chico estava lá, era a tradução precisa, com todas as metáforas, metonímias, ditados, e nunca exagerado.
Na galeria, cada clarão É como um dia depois de outro dia Abrindo um salão Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia Catando a poesia Que entornas no chão
Se eu pudesse, escreveria bem mais. Teresinense até os cabelos, negra indígena, mulher, voz grave, mãe. Seria disparate não mencionar o amor às letras.