sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Confunções

(Ou a confusão poético-funcional dos órgãos)

Baseado em trechos do texto Part.indo o ser. Parte 1 (cabeça)
de Laís Romero

Bem lá no centro,
No meio, no olho,
Eu me perdi.

Os pelos, os lábios, a umidade,
Nos olhos...
Eu vi.

O enamorar-se no olhar
Surge de um orgasmo ocular

Grandes lábios
Pálpebras,
Olhos grandes
Ósculo,
Cílios,
Vênus...

O enxergar é copular,
Coóptica,
Fomentar.

As imagens penetram,
Rompe-se o hímen,
Imaginem...

Vulvisão.

Fúlvio D'Alambert

um porém

Faz mais ou menos meia hora que escrevo e apago. Leio as palavras soltas, me acho babaca, não me encaixo no mote que eu mesma proponho! Andando a esmo! Detesto isso, precisando definir, traçar o objetivo dessa escrita: quero falar de algumas perturbações atuais, como crônica.

Crônica craniana, crônica que me deixa impossibilitada de ser imprecisa. Crônica que me deixa, que me deixa de lábio escancarado, amor aflorando na ponta da língua que lambe o suor do rosto cansado de êxtase.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Experiânsia

Indeciso, o minuto parou
e de repente as planícies internas estremeceram...
Pernas corriam
olhos reviravam
mãos se dedicavam às texturas

Mas o minuto parou
parou
Entenda:
as coisas eram como tu montava
as coisas todas
só existiam nas tuas mãos
tu monta e desmonta cada decepção...

(Pàra de se alimentar de coisa irreal,
metafísica não enche barriga de ninguém!!)

Ainda está parado o minuto
congelado
entretido com os próprios dedos
escorrendo ansiedade
atrelado à indecisão:
pra onde?

Não se pode esperar nada
não há tempo para passar
O minuto quis girar
quis crescer e virar hora
e na ânsia diária de ser mais que 60 segundos
parou.
Pausou.
Doeu.

Fiou seu tempo
firmou seu termo.

O minuto está parado,
e algum disparatado,
fala sábia e com amor:
- Dê tempo ao tempo meu bem...tudo precisa de umas horas para crescer, de uns dias... as mudanças dóem com o tempo tudo sara, com o tempo as asas nascem... o tempo voa, nem precisa esperar!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

1 minuto pensando.

asterisco, ponto e vírgula...

sabe que às vezes fico presa no foco do cansaço?




****
imagine-se em suspensão
em abrupta pausa

esvaziei um capítulo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

solução.do

O nome daquilo que quero não existe
não persiste na mente
simplesmente aguço os sentidos
esquivo-me-
transformo

Aquilo sem nome
só precisa existir
pra eu pegar

fiquei cega confusa
coberta de carne
histérica no cerne

ainda ainda
somente
mente difusória
atinge as paredes permanentes

olha,
queria um tiro certeiro
uma dor peregrina
uma bola de espuma
simplesmente
encontrar o perfeito
ao dobrar a esquina;

mas, me diz
o paradoxo agudo
perfura os seres
transcende cada lindo discurso

mas, me convence??

não quero
.



conversa pra boi dormir
vou pedir e perder um gole de café.

ficar em cima da casa, dobrar as folhas
subir no avião de papel
decolar na solução da rima
e ir embora.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Part.indo o ser. Parte II (tronco)

Expirou... Transpirou, pairando sempre no ar os seus movimentos iguais às ondas de um lago qualquer de foto de calendário europeu, ondas feitas por alguma pedrinha jogada a esmo... Uma pedrinha que carregava algum peso inominável.
Ainda estava parada, ainda ainda, esperando algum alguém, esperando algum quando quanto, esperando qualquer onde que tirasse seu corpo daquela angústia: não notava o próprio poder, não notava e nem queria notar que crescera, que o tempo nunca vai ser feito de um primeiro, são segundos e mais segundos que não esperam por nada.
Doía-lhe o peito. Uma dorzinha aguda bem entre os seios pequenos... sentia essa dor a cada hora indecisa, a cada grito não dado, a cada choro preso. Maldita dor... talvez que fosse só uma impressão essa expressão corpórea: o que quer dizer meu peito?
Levantou-se, e respirou dolorosamente, com as mãos livres e os sentidos atados continuou a caminhar...Queria estar contaminada da anestesia geral que a cidade havia tomado, queria rever os amigos que não haviam sido anestesiados, queria partilhar a dor no peito, queria brutas flores... Brutas flores nos desertos delirantes do sem fim que é sentir: pra quê anestesiar o que se há de melhor, o que se é de maior?
Não, nunca quis anestesia... de repente ela explode multicolorida...
Sempre foi maior.
Sempre viveu no limiar das palavras grandiosas... , sempre inerente às metafísicas da vida, viva vida beija flor...
Atravessou mais uma rua imunda, um automóvel passa e ela se vê refletida, não pôde ver os olhos, viu apenas os lábios, o tórax, e se esforçou para ver sua dor refletida no vidro que se borrava de chuva, tudo se borrava de chuva naquele instante...
Queria sucumbir de joelhos e beber da água que descia ácida do céu.
Era sim uma cicatriz na Terra.

(continua...)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Part.indo o ser. Parte I (cabeça)

Os olhos estavam quase se fechando por causa da poeira que adentrava sem pudores na região mais erótica do corpo. Zona erógena mesmo, pense: o olho excita o corpo, o olho é molhado e possui lábios, pêlos, o olho transborda emoções sexuais quando se quer. O olho come as pessoas que desejamos, o olho se entrega, o olho pede muito...o olho às vezes se perde.
Os braços estavam perdidos , sem muitas forças de fôrca como todo braço contém, todo braço quando se dedica a um abraço une em um coração as forças dos quatro braços. Piegas mesmo, mas o prazer da simplicidade verbal é: não dá pra mentir com essas poucas e fáceis palavras.
Caminhando, caminhando com os passos onde os pés não deixavam de tocar o chão, passos que carregam pesos inomináveis, talvez um suor nas plantas dos pés facilitasse essa caminhada abstrata que está a ser descrita aqui. Onde estará indo esta persona? Por quais caminhos ela se leva, eleva??
Finalmente abriu os olhos duros, hoje esses olhos estavam assim um tanto que endurecidos/enfurecidos cheios de vontades, mas realizando imagens hipócritas e pequenas. Tudo tão pequeno, tão pequeno perto da grandeza da... ah! Nem vale a pena pensar, pensou!
Continuava para lugar nenhum e no chão traduzia as escolhas: cada passo, cada movimento era uma entrega do que era, e sempre foi assim, muito exibido esse seu âmago, muito excitado esse seu tempo... vivia a espiar as faces alheias para colher sementes sentidas de poesias difíceis, palavras fáceis.
Parou. Ela (é ela) parou numa calçada qualquer, numa veia da cidade por onde circula o veneno, imaginava-se numa veia onde o sangue era trazido das cabeças da cidade, as cabeças que sempre estão a tomar vento, cuca fresca, 'os edifícios'... Parada não precisava gastar mais energia colocando um pé a frente do outro, quase se arrastando por estar pesada demais: pesada de quê criatura??? Pesada de pensar, sempre a pesar, muito difícil de prezar! Era assim, o que deveria, o que haveria de ser feito?
Fingir?
Algumas vezes tentou fingimento, mas não conseguiu muito sucesso, apenas despencou de novo... é a realidade baby! R e a l i d a d e...
O céu, olhou com os olhos escancarados de prazer o infinito céu, infinito é o que dizem... na sua visão ele sempre vai se encaixar, mas ainda há de sobrar,... isso incomoda tanto: o céu nunca vai caber todo! Não cabe!
Respirou...

continua...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Sover, chofrer ( título extraído de um texto de thiago e)

Olha,
eu até que queria brotar uma história hoje, mas criei uma série de empecilhos maldosos... de sentimentos que atormentam... criei tudo para não brotar.


...



Hoje é dia nublado no céu de dentro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Oração substantiva subjetiva direta

Respiração compassada
as mãos e os pé trêmulos
no permanente mutado humano
na carne
no cerne
no viver de toda hora recolher
recolher a cada espasmo o não-normal
restaurar cada lasca de pedra que se solta
que remota remonta uma vida que não é nossa

imagine-se não sendo
imagine-se não penso
não torto
não imaginando

recolho os cacos espalhados
de explosões mentais
recolho os muitos transbordantes
recolho o sentir dentro do infinito
recolho no sem fim
recolho no muito
recolho para não conter

contradito
contraído o músculo maior sempre pulsa
contraio cada prédio da cidade
cada carro que me esmaga
me engasga com a fumaça
cada cigarro contra o peito
cada mão
cada (pre) conceito inaudito, fingido.

Não, não sou nada. Imagino?
Só o caminho corrente é o mais penso, penso de pensar...
Só o dia de hoje me convém,
amanhã sempre estará tudo bem!
Só o agora interessa,... amanhã?
Não eu nunca tive pressa de fazer esse inominável!
O amanhã não existe meu bem!

Segundo
segundo
segundo
60 segundos e não há um primeiro
é sempre o segundo que vem e não se percebe que já



j...
passou!

Repito
sou reescritora
e os meus gritos só ecoam...
no tempo vivente na esquina do vento
meus giros ressoam cada humano nó, nós todos

Impressiona-me sempre
esse correr sem sair do lugar
refletir-se no opaco mundo mudo
que pretende o que não dá
que promete o que não soul
não é contradição
é extração de matéria
substantiva subjetiva direta!