terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sem título

Eu
fantoche do absurdo
cabeça vazia e peito cheio
sempre
em desacordo com o tempo
quase
ao alcance das constelações

No caminho não procuro
tabacaria alguma
tampouco finjo o que não pretendo

Palavras ecoam
e a melhor expressão
é a do silêncio
que mesmo verbo
não versa em nada

Não há flores neste asfalto
e a poesia em mim se cala

domingo, 21 de novembro de 2010

Veículo QSP!


veículo q.s.p.

é uma fusão co-administração da poesia do grupo ACADEMIA ONÍRICA com a música da banda QUARTERÃO – indicado para o tratamento de qualquer efeito placebo, diz NÃO a toda prescrição manipuladora! – inibidor potente da flacidez do não-dito, do não-feito! – estudos adequados atestam sua eficácia pró-permanência de toda sorte de inspiração, sobretudo as inflamáveis – tais pesquisas também confirmam que a administração de VEÍCULO Q.S.P. concomitantemente com festa, diversão e fúria resultou em um considerável acúmulo de bem estar no paciente, ou melhor, no sujeito – embora estudos de interações com outras drogas não tenham sido realizados, tais combinações podem ser positivas: combatendo ânsia, angústia e medo – existem relatos de que POESIA TARJA PRETA é certeiramente indicada para exterminar, de modo sumário, algemas e o mais que com elas se pareçam – QUARTERÃO é adequado para catalisar o grito primata do homem solar, intermunicipal e provinciano, que se rebela contra as agruras da decrépita cidade frankstein – VEÍCULO Q.S.P. é bem tolerado – as reações adversas mais comumente observadas são reverberações no tempo – isto é, reações adversas, não – o espanto é poético, ou seja: foi, é e será uma QUANTIDADE SUFICIENTE PARA uma reação adverso +

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Questão de perspectiva

Alguns dizem que meu filho é pequeno.
Discordo...
como sempre olho de perto, o vejo enorme.
O maior!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Liberdade, independência e roupas a secar

Estabeleci meu conceito de liberdade e independência com os pregadores de roupas. Exatamente assim. Quero uma casa grande, alta, ventilada e com espaço para meu filho correr e inventar mundos ao meu redor. Quero continuar sendo criança adulta para ele, uma missão mais que valiosa que assumi ainda menina e, à força, me fiz mulher diante dos fatos.
Os pregadores de roupas são a conseqüência do meu esforço por uma vida independente: um dia, não muito distante, os comprarei para minha casa. Acho o ato máximo de liberdade eu ter meus próprios pregadores, grampos coloridos que irão se perder, multifacetados e infiéis a mim. Meus pregadores, minhas roupas em meu varal!
Este dia glorioso povoa minha imaginação: eu chego em casa, roupas leves num sábado ensolarado (o sol no sábado é mais gostoso, menos agressivo e sempre vem acompanhado de música), pego uma singela peça de roupa molhada, estendo sobre o varal e, com meu pregador, fixo a mesma no tal ato máximo de liberdade. Eu comprei o pregador, ele me obedece, somos moradores dessa mesma casa, posso deixá-lo organizado no varal, solto ao chão, grudado na roupa já seca... posso chorar um dia pregando as roupas, ele, meu confidente.
Num dia qualquer minha raiva pode ser descontada num pregador verde, numa ira sem sentido, arremessado violentamente contra a parede. Ele, mais forte que eu, vai rir do meu ato insano, e vai mostrar que aquilo não serviu pra nada. Vai me observar chorar arrependida, envergonhada de todo o teatro dramático daquele instante, e voltará às minhas mãos, como o meu querido pregador de roupas, a quem posso ser livre. Não existe nada mais vivo e real que colocar as roupas para secar. Nem nada mais livre que ter meu próprio pregador de roupas, no modelo adequado às minhas necessidades, nas cores que desejo, no mundo que construi para mim.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Convite.


No encontro das ruas Eliseu Martins com Anísio de Abreu.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Não me espera
senta lá fora e fica
olhando o céu
um Órion atravessado
na retina
enquanto Plêiades dançam
carinhosas.

Pode ficar aí
sem pressa
eu não volto meu bem
não me espera
o sabor da vida
é não saber
como manter
as feridas abertas.

Qualquer dia desses
eu passo por aqui
apareço em riso.
O desespero é meu
compromisso
e por causa disso
eu imploro,
como quem nada quer,
o meu simples desejo:
não me espera.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Eu sou grande, meu deus!

Estou particularmente cansada hoje. Este texto não carrega nenhuma pretensão literária, apenas o desejo de me livrar de alguma coisa que me perturba muito, como sempre. Escrevo aqui também para que este espaço não se perca de mim em momento algum, em bagunça nenhuma, nem quero eu deixar de contar com ele, deixar de segurar-lhe a mão. Esta página, que se mostra um amontoado de códigos em máquinas frias e estúpidas, me carrega, tenho uma dívida para com ela, um pacto de sangue e cólera. Expressões em momentos de pathos.

Só vim aqui para dizer. E disse.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Que serventia tem?

Escrever só serve para que muitos testemunhem o que edifico. Para que eu exista depois de depois de mim. Para me sentir um pouco menos, quando esvazio, um pouco mais quando leio. Só isso. Viva. Para me sentir viva. Ou fingir que morri às vezes.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Alma da silva

O mundo é doce
só olhos imprecisos
não enxergam os ritmos

O mundo é um rio
e o carregar das horas
se torna corrente e carinho

Afogar-se não é uma opção.

sábado, 28 de agosto de 2010

TRIMERA N° 4!

Já está nas bancas a Trimera n° 4!!


Chegamos à última edição da revista.

Agradecemos a todos que ajudaram, que atrapalharam, os que sequer souberam de sua passagem por aqui, os entusiastas, os sonhadores, os críticos, os devedores, os gênios incógnitos, os medíocres notórios, os artistas, os não-artistas e, por fim, os escritores, estes em menor número.

Sirvam-se das postas desta literatura rasgada onde derramamos nosso sangue e com borrifos e filetes tingimos essas últimas páginas.


Bon apetit!



Leia a Trimera on-line.

sábado, 7 de agosto de 2010

.



Teresina é

e
sol
Nenhuma outra nota dá.



terça-feira, 13 de julho de 2010

Pausadamente árida

Nem o vento é capaz
de condensar as minhas lágrimas.
Hoje que me faço
ataduras de veludo
aos ouvidos machucados.
Logo hoje
minha coluna
mantida ereta
cabeça erguida
e
na testa
um suor porco.
Me sinto pouco.
Talvez nenhum.
E não choro
águas paradas
lagoas desembocando no caos.
Logo hoje
elegia ao tempo
eu sofro de mundo
e mudo
o vento
a cada instante.
Queria mesmo era chorar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Função da poesia

Pra que é que tu quer poesia?
Tampar buraco na parede
Fazer sutura
Limpar o chão
Pra cantar mulatas
Comprar as drogas
Buscar estrelas e
Florir as hortas

Mas me diz, que eu ainda não entendo
pra que é que tu quer poesia mesmo?
Pra vender lixo
Reciclar a alma
Pagar o flanelinha
Atravessar o Parnaíba
Fazer farofa
Votar
Pra andar descalço
Pra desculpar as loucuras e
Pegar passarinho

E pra que mais que tu usa
Essa tal de poesia?
Pra subir a serra
Remendar roupa
Catar feijão
Assar milho na estrada
Rezar o terço
E vezenquando
Morrer na curva São Paulo





Eu só não uso para amar
que com poesia não se ama
nem se abraça ou vai pra cama
amor é bom é de viver.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O mundo é tão bonito

Li meu primeiro Saramago quando tinha 15 anos. Não choro a morte dele, ele não é um ídolo. Odeio ídolos. O mundo ficou mais burro, quem disse isso foi o Fernando Meireles. Eu concordo. Estou fragmentada por isso. Gosto de tudo que leio do Saramago. Ele me ajudou a ser quem sou hoje, seja lá o que isso signifique. Pena que ele não escreverá mais. Meu filho vai ler Saramago, ou pelo menos eu assim o estimularei. Vale a pena. Vale todas as penas de uma leitura difícil. Ele nunca vai ser esquecido. Eu acredito nele.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sem sombra de dúvida

Não há sombras quando não há dúvidas. As dúvidas são pétreas, sólidos monstros loucos. Moinhos em penhascos e todos residimos em suas sombras. Eles não nos tocam, só nos perseguem dia e noite, cobrem a luz do sol, o reflexo da lua e nos olham felinos, satisfeitos da assombração diária.
Certeza, certeza... só a morte.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Desejo ser

à Marina Colasanti

Todos os dias caminho
na areia mais grossa
correr nela é o desafio
que impus à lógica

Todos os dias
um poema novo
me move
e eu apanho
na cara
eu apanho eu apanho
a___p___a___i___x___o____nada

segunda-feira, 24 de maio de 2010

.

Se é para ser fatal
sejamos
a delicadeza nunca fez
parte alguma
dos modos de meu peito surreal

Temo o depois
de cortes feitos por papel virgem
escorrendo a dois
temo
perder a viagem

Se é para nos quebrarmos
sejamos
o mais puro deleite
fervor
o aparente desconsolo
sentenças instáveis
que abandonam vacilantes
em valsa

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Muitíssimo obrigada

A despeito do que dizem de mau por aí tenho me sentido muitíssimo incentivada e privilegiada a continuar postando por aqui: ferramenta controversa no mundo literário e que nos serve de grande ajuda em dias onde a leitura está espremida entre tempos do trabalho e outros afazeres.

Agradeço, a todos que vem aqui, as mais de 7 mil visitas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Anotações pós pesadelo.

Aquelas figuras pareciam sonho e desapareciam com um toque dos dedos ansiosos e suados. Me abracei na medida dos meus olhos: gigantescos e tristonhos. Fui correndo em tua direção e nós nos batemos, violentamente. Violino. Prezo muito pelo som. Os passos foram consumidos por tremores amaldiçoados, dedos presos por costuras numa carne assombrada. Me solta! O ditado é mantido a cada nova respiração congestionada. Me olha... eu fico central, das atenções temidas e desesperos compartilhados. Me vomita! Pulei na tua boca na esperança de nunca mais ser sozinha. Isso soa mal. Morde minha boca, morde...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Encontro com o tempo

Hoje estive assim aérea e imaginando que o tempo está sumindo, é entidade falida. Mas só imaginando. Porque a cada gole de cerveja, cada passo no sol, cada riso do meu filho adormecido eu sinto o tempo oxidar até a raiz dos meus cabelos. Eu sinto agora. Amém, que vou sucumbir ao tempo, mesmo sentindo saudades de mim no mundo não quero para sempre viver... eu que amo tanto e tão desesperadamente. Eu que escrevo o que me faz, e existo por isso, através disso. Tudo para existir. Não há remédio para nada, de nenhuma tarja ou posologia. Apenas viver.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Testemunhos à parte

Angústias de sempre:
culpas
medos
relacionamentos vazios

Desejos mais antigos:
necessidade de amor
de fazer algo importante
deixar algum legado

Banal né?
Todos Nós. Emaranhado de nós.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Eu sou um estranho navio
ausente de assim ter nascido
um ausente partido
coração entranhado no mar

Toco em todas as terras
em centímetros de perguntas
que lançadas, voltam
e, a indagar, passam o resto da vida

Sou um estranho navio
que, distante
se mostra em brilho
e, constante
se perde intenso em delírio

Um estranho e pesado
navio de guerra
por vezes jangada
e, no amor, um delicado cruzeiro

Um navio apenas
indefinido por ser impróprio
apaixonado pelo oceano
em que, naufragando
se refaz a cada instante

quinta-feira, 22 de abril de 2010

4º encontro Academia Onírica



Vamos?
Noite Paulo Leminski
Guitarras
poesia...

Só 2 singelos reais de entrada. Eu sei que tu tem...

terça-feira, 20 de abril de 2010

E quem se importa?

Há uma destruição intermitente entre o sangue que sai de minhas gengivas e as palavras que escrevo todos os dias. Há uma desconstrução covarde entre o que digo e o que ouço, a cada instante, eu passageira das horas azuis, eu esperança desesperada. Há uma reescritura de uma história ao avesso, trapaça instantânea que cai na mesmice. Quer saber?... minha alquimia é real! Não interessa o entendimento, isso daqui é vida!

Eu já deveria saber.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Eu digo amor

e meus lábios se entregam em febre e reticências. Antes a palavra escrita ante o desespero de não ser. Sempre espero alguma coisa além e sempre me perco nos ilimitados detalhes das texturas incandescentes. O fogo. Eu digo amor. Desta vez grito para que o sangue corra rápido, para que o medo estremeça e para que meu rosto assuma nova cor. Eu sempre digo amor. É que me repito em parágrafos infinitos, me suplico para que eu pare e não atendo meus pedidos. Ah!... eu digo amor! Eu digo e não funciona, minhas pernas somem e eu morro quando a alma abandona, o vento me carrega e é quase sempre o espírito. Eu digo amor, eu digo.

terça-feira, 30 de março de 2010

Passageira

Nada pode me matar
nem o sumiço das horas
passatempo tão pesado
nem a neblina nos olhos
amargor fechado
nem as agulhas espalhadas
gritando em minha pele
nem o sussurro tangível
de quem atravessa o labirinto
e nele se consome.

Nada pode me matar
ouço o despertar felino
das moças prostitutas febris
ouço o semáforo em amarelo
das madrugadas solitárias
meus músculos ouvem
e repelem cada centímetro.

Nada pode me matar
nem a minha insegurança
meus braços maiores que tudo
o sufoco que impus ao mundo
as trapaças na roleta russa
Nada
o frio que me enreda
e devolve meu ser azul
não pode alcançar meu peito.

Nada pode me matar
nem os tiros de glória
de um passado inexistente
nem os hermetismos de outrora
serenas madrugadas sombrias
álcool e poesia
desejo e repreensão.

Nada pode me matar
eu grito isso há tanto tempo
reviro páginas
deito espalhada
e penso se vou ficar aqui sozinha
pelo resto dos dias
sem me levantar.

domingo, 28 de março de 2010

A crítica e o tempo

De fazer com bom humor
Falar de amor
Rima, riso e artifício
Nem me fale em poesia
Que aos 20 não é isso

De fazer com lágrima
O compromisso adiado
Falar dela: perfeição e passado
Nem me fale em poesia
Que aos 30 ainda é descaso

De discorrer das complexidades
Alterar conceitos
Repetir fatos, ditos e feitos
Nem me fale em poesia
Que aos 40 é sem efeito

Mas ainda insistia
Despudoradamente
Grito amor e riso
Nem me fale em poesia
Que ainda se morre disso

domingo, 21 de março de 2010

Animula Vagula Blandula

Não sei fingir que amo pouco quando em mim ama tudo.

Vergílio Ferreira

quarta-feira, 17 de março de 2010

eu já era.

A vida é chata e sem graça, está perdendo o brilho a cada instante petrificado pelo obrigado. Obrigada, eu digo, e sempre viverei assim, obrigada por tudo e um pouco mais. Não se deve falar alto, um imprevisto me carrega as forças, o gosto deve ser refinado, a roupa muito bem abotoada e a postura ereta como uma lança que impala o cadáver. Conhecer de tudo e ser a mais bem educada flor de requinte além, é claro, da pontualidade. Os pesadelos se concretizam e o brilho dá lugar a um amargor característico de quem se dobra ao real. Será felicidade viver assim? Não ouso responder, uma vez que poderia estar falando no momento inoportuno. Ou talvez seja apenas inoportuno e inadequado falar desta maneira tão inconstante. Com a sua licença, mas não posso ficar, tenho outros compromissos, os mais pervertidos possíveis e os impossíveis também, só peço que não alardeie por aí tal afirmação, pode destruir meu caminho já há muito ditado.

Passar bem.

terça-feira, 16 de março de 2010

Espírito do rio

A luz está fraca. É meio dia em meu espaço. Não me pergunte como, mas esta frase me ocorreu, elas todas me acontecem, histórias me acontecem em milésimos de segundo e tenho a alma fortalecida nesses instantes, embora fique exausta logo em seguida. Não temo mais o destino que prescrevo, nem me atormenta o abismo de outrora, o que me leva são os sonhos de sempre a as palavras ariscas. Não sei domá-las nem quero. Tem pouco tempo que agarrei uma explosão com tanto fervor que me queimei de uma só vez e o que me espanta é ainda estar em brasas. Se me arrependo? Todos os dias de não ter abraçado o fogo antes. Estou radiante...
Me abraça forte agora e me devolve o que eu te entreguei: versos e excessos de palavras que poderiam ter sido e não foram, não são. E que se dane o desespero, quero muito a vida plena e deliciosa. Carne sangrando rasgada com cheiro de sangue e jeito de quem não tem mais jeito, vai ficar ali exposta... Também amo o suor, o natural, o cruel às vezes me convida, o grito! ! Dependo de todos para fazer valer a pena destas linhas, mesmo sabendo que quem vem de encontro a elas vem para encontrar a si de alguma maneira, e nunca se encontrar comigo. Escrevi e não estou mais aqui. As linhas do mundo inteiro. E sabe o que mais? Não me envergonho de errar, meu texto pulsa no meu ritmo, se admite com meus erros, se forma e deforma conforme minha dança, meus passos e os passos de tantos que sigo, de poucos que me seguem mortos ou vivos estão todos aqui. Um só. Somos plantas enraizadas nos céus e as estrelas caem todos os dias no mar iluminado da manhã.
De todas as horas do dia é meio dia que tudo se congela em luz e calor infernal, é meio dia que tudo para e não pergunta nem responde. É cinco da tarde a hora mágica que o mundo renasce, é cinco da tarde que os cheiros se mostram divinos, que a luz fica inebriante véu. O mundo me bate meio dia e me embriaga cinco da tarde. Completamente poesia neste instante. Sou poesia por todas as horas exageradas e inconstantes, por todos os gritos internos, os desagravados silenciosos eu sou! Poesia por todos os poros arreganhados de euforia, pelas pernas bambas às vésperas de um recital, pelo meu fim eu sou poesia. Amém. Em toda parte e nos inteiros eu sou poesia.
O grito se acalma.
Questiono meus métodos. Questiono meus dedos. Questiono minhas unhas frágeis. Indassim sou poesia.
Me larga agora... o abraço já foi suficiente, já se foi o abraço. Me larga, que o dever te realiza e eu nunca fui dever. Me larga!
Estou cansada.
É muito trabalhoso sentir assim. Me fecho agora em sono restaurador e volto, acordando todinha para dentro.
Espontaneidade, meu deus, é tudo enquanto.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Alma verso.

Em estado selvagem a dor alcança meu seio farto de pretensões. Nada em mim acontece sem querer e o sabor triplica em desespero quando sei que consegui meu objetivo. É preciso bem mais se eu quiser saber, é preciso mais força, muito mais força para alcançar o espaço-tempo a que me proponho, absurda talvez, mas sempre alerta. Estive no meio do nada com tanta coisa pequena num universo tão grande, acredito desde pequenininha que quando meus olhos alcançam paisagens imensas a minha alma fica também imensa, o meu corpo, que é tão pouco e tão efêmero estremece quando a alma entra em contato com a imensidão das paragens desconhecidas, das conhecidas, das grandes. A grandeza física das coisas me atrai e o infinito me deprime, uma vez que não sei ainda como alcançá-lo, o infinito me consome. Fico ansiosa toda vez que percorro o infinito, eu não sei percorrê-lo, penso nele todo dia, estou nele, ele cresce, cresce, cresce... uma loucura me provoca, uma angústia me leva a saber que faço parte do infinito, parte de algo que não tem tamanhos ou partes, isso não me acalma. Aí é quando sei que somos tudo e que qualquer coisa é tudo, e paro. Quieta escuto o tudo em mim. Quieta sei que sou também infinita. Quieta vou me desintegrando no ar, vagarosamente, para formar outros universos... versos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Academia Onírica



Prestando meus singelos serviços à esta iniciativa da qual faço parte.
Compareçam!!
Para maiores contatos e informações acessem: http://poesiatarjapreta.blogspot.com

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Coma isso

Tenho rios de tristeza correndo até os olhos e em meu peito tiros resvalam solidão. Depois de horas-semana naquela janela gradeada, olhando o céu, rodeada de músicas de outros continentes com frio suor escorrendo pelos dedos, eu estava te esperando.

Uma dor insuportável guardava o sol em minha cabeça. Às seis da tarde pus os óculos escuros fugindo da claridade dolorosa e não dormi por pura falta de sono. Talvez também me faltasse consolo, abano. Ah...... eu estava te esperando.

A necessidade boiava como um cadáver indesejado, nenhuma luz se demonstrava catedrática a ponto de invadir e preencher meu cerne, nenhuma mão se segurava à minha, nenhuma boca beijou meus olhos. Decidi seguir caminho. Eu estava te esperando.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O sistema

Os funcionários não funcionam.
Os políticos falam mas não dizem.
Os votantes votam mas não escolhem.
Os meios de informação desinformam.
Os centros de ensino ensinam a ignorar.
Os juízes condenam as vítimas.
Os militares estão em guerra contra seus compatriotas.
Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os.
As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados.
O dinheiro é mais livre que as pessoas.
As pessoas estão a serviço das coisas.

Eduardo Galeano, In: O livro dos abraços.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

?

Acordo com os olhos ainda fechados e peço que os sentidos saiam pela minha boca, pois pelos olhos os sentidos não alcançarão onde quero tocar. Reverberar os centímetros de asfalto quente ao meio dia, restaurar as crateras no rosto daquela senhora parada no ponto de ônibus, fazendo careta do calor que sobe democrático. Somos todos um só, somos todos um som, sou uma reescritura sagrada por ser música, sofrida por ser poesia, louca por ser em prosa. Quero apenas conversar. Entonação de voz mais limpa possível, clareza, olhar escuro e tenso, ... apenas conversar. Não garanto que algum vá me ouvir, por isso mesmo que escrevo, ouvindo uma música que me guia extraordinária. Algo pesado me consome por esses dias e as palavras não me saem como deveriam, tenho uma gestação frustrada atrás da outra, sou uma alma se tornando pedra, queimada pela fogueira de alguma instituição revoltada e incompleta, estou afogada, maculada, destruída, sem rumos nos meus cantos. Nada me salva. O que me resta é uma tristeza latente, meu vício maior, e que eu fujo desnorteada, com o perigo em meus calcanhares fracos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Depressão pós pós

Insistência e necessidade, as duas ordens dos dias que venho passando sem conseguir o velho impulso que me guiava a escrita. O peso das coisas tem triplicado, e as dores sendo mais agudas (sim eu sofro de dores crônicas), tudo se encarrega de me deixar em um estado letárgico, como se minhas mãos estivessem cortadas e caídas ao chão. Sofro por não conseguir concretizar os devaneios e imagens em poesia, sofro por não mais conseguir a esfuziante paixão por algo que eu tenha parido nas entrelinhas. É um vazio pós parto que me domina, um vácuo entre obras, uma inexatidão, imprecisão, um descompasso, desconsolo, desapique e o que mais se queira traduzir essa falta de expressões e construções. Me sinto derrotada, mas quem se importa? Talvez se eu cortasse uma orelha, se eu quebrasse uma perna em cena, se eu mudasse de profissão ou ainda criasse um drama de proporções faraônicas ou me aventurasse numa odisséia... talvez eu morra no talvez. Quero uma explosão, estou cheia de fragmentos e restos. Algo grande se aproxima.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ato máximo

atirei meu coração aos lobos
e
por puro prazer estético
eles o mantém ainda vivo

sábado, 9 de janeiro de 2010

De quando a rua foi engolida por um dragão de nuvens

Vamos começar. Seriedade demais cega, e eu ainda quero achar lindo o nevoeiro que cobriu o prédio da esquina. São pelo menos dez quadras de distância, dezenas de passos, e meus olhos não veem dez palmos adiante. É um prédio enorme e ficou tudo branco, um véu sem cheiro, sem textura, mas que carrega tanta vida. Eu sabia que na beira do rio estava mais denso, uma dança contra as luzes do poste e o que eu mais queria era estar lá, só para ver mesmo, só para admirar com força, bem forte e terrível, assim até chorar o desespero da feiúra diária ao meu redor. É cansaço. Queria pegar na mão mais próxima e adentrar naquela nuvem que desceu ao chão, correr desesperada como quem foge de onde não se pode fugir.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

UniVerso.

Escrevo desde os dez anos de idade. Escrevo há mais de dez anos. Estamos em 2010. Esperava que no passar daquela madrugada, ao acordar com os amigos, eu encontrasse alguma resposta ou alguma inspiração arrebatadora, eu achava que o tempo iria trazer de graça e com graça um algo mais que me completasse. Mas o diverso se traduziu triste e desencanto, o mundo muitas vezes não é bonito: a incompletude me trouxe bem mais. Tenho feito menos tempo, encontrado fios de prata em minha cabeça, correntes que me puxam ao chão. O que me preocupa é se ainda terei disposição para encontrar o ritmo do antes do antes, algumas pessoas chamam isso de sentido da vida, origem de tudo, outras chamam de parte que compõe todos... concordo com todas elas, e digo mais: se compõe é música, tem ritmo, pode ser tocado em todos os sentidos.
Preciso delirar com segurança, tenho medo de me perder.
Não deveria ter escrito este texto, mas ele já nascido e independente caminha por aqui, é uma divagação, um ensaio, e para quem não sabe: divagar se vai ao longe, é por isso que sigo à risca o divagar e sempre.
Me guardem com carinho, pois aqui faço tudo de propósito.