terça-feira, 16 de março de 2010

Espírito do rio

A luz está fraca. É meio dia em meu espaço. Não me pergunte como, mas esta frase me ocorreu, elas todas me acontecem, histórias me acontecem em milésimos de segundo e tenho a alma fortalecida nesses instantes, embora fique exausta logo em seguida. Não temo mais o destino que prescrevo, nem me atormenta o abismo de outrora, o que me leva são os sonhos de sempre a as palavras ariscas. Não sei domá-las nem quero. Tem pouco tempo que agarrei uma explosão com tanto fervor que me queimei de uma só vez e o que me espanta é ainda estar em brasas. Se me arrependo? Todos os dias de não ter abraçado o fogo antes. Estou radiante...
Me abraça forte agora e me devolve o que eu te entreguei: versos e excessos de palavras que poderiam ter sido e não foram, não são. E que se dane o desespero, quero muito a vida plena e deliciosa. Carne sangrando rasgada com cheiro de sangue e jeito de quem não tem mais jeito, vai ficar ali exposta... Também amo o suor, o natural, o cruel às vezes me convida, o grito! ! Dependo de todos para fazer valer a pena destas linhas, mesmo sabendo que quem vem de encontro a elas vem para encontrar a si de alguma maneira, e nunca se encontrar comigo. Escrevi e não estou mais aqui. As linhas do mundo inteiro. E sabe o que mais? Não me envergonho de errar, meu texto pulsa no meu ritmo, se admite com meus erros, se forma e deforma conforme minha dança, meus passos e os passos de tantos que sigo, de poucos que me seguem mortos ou vivos estão todos aqui. Um só. Somos plantas enraizadas nos céus e as estrelas caem todos os dias no mar iluminado da manhã.
De todas as horas do dia é meio dia que tudo se congela em luz e calor infernal, é meio dia que tudo para e não pergunta nem responde. É cinco da tarde a hora mágica que o mundo renasce, é cinco da tarde que os cheiros se mostram divinos, que a luz fica inebriante véu. O mundo me bate meio dia e me embriaga cinco da tarde. Completamente poesia neste instante. Sou poesia por todas as horas exageradas e inconstantes, por todos os gritos internos, os desagravados silenciosos eu sou! Poesia por todos os poros arreganhados de euforia, pelas pernas bambas às vésperas de um recital, pelo meu fim eu sou poesia. Amém. Em toda parte e nos inteiros eu sou poesia.
O grito se acalma.
Questiono meus métodos. Questiono meus dedos. Questiono minhas unhas frágeis. Indassim sou poesia.
Me larga agora... o abraço já foi suficiente, já se foi o abraço. Me larga, que o dever te realiza e eu nunca fui dever. Me larga!
Estou cansada.
É muito trabalhoso sentir assim. Me fecho agora em sono restaurador e volto, acordando todinha para dentro.
Espontaneidade, meu deus, é tudo enquanto.

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