terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dançam as rosas

Eles dançavam as canções mais piegas, os delírios mais insanos e as horas ambiciosas. Dançavam sempre que podiam, quando não deviam... Dançavam!
Ela sempre escorregava pelos braços dele: braços feitos em abraços, em afagos, treinados para segurar cada louca indecisão, cada pequena alteração.
Ele rodopiava em insegurança, não tinha onde segurar, os cabelos escorregavam, a cintura afinava, ela sempre escapava.
Viveram numa ciranda, talvez círculo incompreendido, baile sinuoso, olhos em mentiras.
Viveram em promessas extensas, planos de fumaça.
...
Quem sabe o que há de ser depois de outros bailes, outras danças.
Quem sabe o que não pode se resumir traga a força de um sorriso novo.
Quem sabe cala e prossegue.

sábado, 20 de dezembro de 2008

EVOL

Nenhuma consideração aparente.
Nenhuma poesia ou história.
Nenhuma citação.
Só amor mesmo.
De muito.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Perhaps, perhaps, perhaps...

Andava cercando o parceiro há dias... Numa hora espremida entre um salgadinho gorduroso e uma cerveja na chuva resolveu abrir-se. Uma tentativa de se livrar de situações estranhamente presentes. Situações que não lhe pertenciam...

- Nada.Quero nada.

- Sabe como se sabe disso?

- Não.

- Quando o perfume não se mostra nas horas, e as cores derramam-se das coisas, assim bem honestamente.- Ele mantinha os olhos escuros de raiva anterior, e as doces palavras a escorrer como que um encanto. O dono das contradições mais deliciosas.

- Como assim honestamente?

- Sabe o que é sinceridade?

- Soube um dia desses...

- Pois é, é quase a mesma coisa.

- Como é que cabe um quase dentro da sinceridade?

- Do mesmo jeito que cabe uma dúvida no amor.

- Tipo perhaps?

- Não.

- Então me mostra...

- Não.

Levantou-se raivosa atravessando a calçada suja. Vestiu uma jaqueta jeans: chovia naquela noite e achava a jaqueta um detalhe urbano excepcional. Um sorriso desesperado de quem não sabe ou não quer sair do áporo. Vício. Passados alguns ônibus a antiga dor no peito a perturbava. Praguejando contra a constelação de Orion, que supostamente a protegia, levantou-se e decidiu caminhar. Maldito José Matias!

Dois quarteirões depois entrava no carro.

Um beijo desesperado.

De volta ao áporo, velho vício de drama de novela.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Conto Confronto II. Enfim Sóis

Uma hora enfim, quando não mais se sabe de encantos, a personagem fria levantou-se e disse:

“Muito obrigada pelas flores que hoje são insultadas em frieza. Agradeço a desilusão em nota maior e as doses de tortura somadas ao fim. Reservo-me os direitos de ficar assustada, raivosa, translúcida, olho bem aberto para a frieza entrar. Me reservo o silêncio nobre, aquele que tudo diz.
Ofereço-te uma consciência tranqüila e toda paz de espírito que puderes se permitir. Devolvo-te as sombras em abraços, os terrores do passado e as melhores gargalhadas.
Enlouqueço-me nas contradições, te odeio nas horas vagas e me perco em vício desmerecido.
Eu sei exatamente o que não preciso.”

Em alvorada, o personagem rude se deitou. E não precisou mais sonhar com ela. Haveriam de pertencer a outras horas da madrugada.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Fica mais doce...

Constatações deliciosas de quando me tornei mãe.
É bem doce saber que...

... os buracos nas estradas à noite fecham para dormir, e as estradas ficam planas ...

... a Lua quando vai dormir se embrulha com as nuvens ...

... na escola não se estuda, só se faz tarefa ...

... que não posso esquecer o beijo e o abraço antes de sair .

Tão bom de se viver.

" Mamãe é linda e mariviosa" (entenda: maravilhosa)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

É de agora que estou falando

Eu só quero ficar em silêncio como quem julga a boa hora de partir
como quem muda,
como quem ouve com o corpo inteiro
e de corpo inteiro se altera.

Eu só preciso ficar em silêncio
por mais quatro ou cinco horas,
por maus dois ou três dias,
por mais,
por menos.

Eu só sinto quando estou em silêncio,
e de silente hora
reescrevo palavras vãs.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ontem minha noite foi fantástica. E não há palavra nem sinfonia que comunique. A afinação é por demais superior, e o toque suave de cetim novo.



Bem de muito.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"linguagem em estado de pureza selvagem"

Possuo uma mania insensata de escrever cartas.
É insegura:
Minha letra tremida ...
Meus dedos suados ...


... quero tanto te dizer ...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Divagar


E é assim que a noite se apresenta, sem pressa, e me aperta a garganta em cansaço e angústia de todos os muitos detalhes de que não falo, de todas as afiadas pontas de relógio que costumo engolir quando não tenho tempo pra isso ou aquilo.
Vem sempre um turbilhão e eu fico séria e sensível, fico falando tantas coisas estranhas e embaraço em perguntas repetidas todos os sentidos que antes pareciam claros.
De perto eu sou bem normal. Portanto, fique perto.

domingo, 5 de outubro de 2008

Olhos cansados,
Boca sedenta por cantos.
Os cantos da tua
ou o cantar de devaneios.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A parte esperando o todo

Depois de muito tempo lhe rasgaram os olhos na face lisa. Olhos rasgados, era seu apelido mais charmoso, tinha os dois maravilhosos e expressivos olhos rasgados.
Nunca mais... era a expressão preferida quando de qualquer conversa perdia a razão, ou se perdia na emoção, apelos e mais apelos de 'nunca mais' chantagistas. Nunca mais funcionaram tais artimanhas tão infância.
Se deliciava em observar calada as pessoas e seus momentos relaxados, a hora em que escapavam os gritos, as vozes mais agudas, os olhares que exigiam mais. Amava ouvir estas mesmas pessoas em seus ensinamentos, um divertimento à parte a humilhação carinhosamente escondida em belas palavras.
Olhos rasgados que tudo podiam ver, inclusive quando outros lhe agiam de truques baratos, uns queriam se esconder, outros queriam escondê-la... só não entendia da aceitação, onde as pessoas encontram seus moldes? Em si mesmas?
Divagando em passos extensos: sua história é apenas um trecho.

domingo, 21 de setembro de 2008

Milagres banais

Ontem a Lua veio dormir comigo.
Como um grito surdo ela invadiu meu quarto.
É cheia de dor essa luz fria, mas me acalanta o sono.

.
Foi tudo no mesmo dia em que fiz amor ouvindo cantiga de ciranda.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Ela disse " tchau!"
e eu perdi meu avião...

(Arianne Pirajá!)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

.

"Vejam como os homens culpam os deuses
de nós, dizem eles, vem o mal
mas através de sua própria perversidade,
e mais do que merecem,
encontram...
A tristeza."

Assim falou Zeus,
pai dos homens e dos Deuses,
pela boca de Homero,
o Junkie.

(...)



(Mundo livre S/A - Homero, o junkie)

domingo, 17 de agosto de 2008

.

Acordar sozinha é ruim, mesmo sabendo que morrerei do mesmo jeito que nasci: sozinha.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Teresíndia, 09:24 am, 12 de agosto de 2008, uma manhã sonolenta

É que você me pede pra falar e eu não sei a força da expressão sonora, a força de palavras ditas, e quando falo sou repetitiva, fico afogada num círculo vicioso e dorida de não poder resolver certas pendências antigas. Sou um ser que pensa demasiado e lucidamente convivo sozinha com minha dor própria. Você diz que não posso ser assim, e tantos dizem que sou repetitiva, mas eu não consigo não o ser se as coisas insistem em reverberar redundantes em todas as paredes de meu corpo, e você me pergunta tanto muito quanto posso te dizer a teu respeito: não sei falar muito bem daquilo que sinto, são valores diferentes e os meus problemas sempre serão menores que os de todo mundo. Você me diz da força, da sua, da minha e eu vejo muito as engrenagens do mundo-máquina, um complexo comboio que não sabe o rumo e me carrega, a vida não me leva, ela me carrega como um peso, pessoa pesada que sou, soul. E eu escuto ainda que sou um ser humano bom, mas não me comprometo em fazer dias melhores pois sei da minha inconstância, pessoa perdida que exalo, exatamente como não escolhi ser. Repetitiva peço todo dia a presença tua, e fico com os dois pés dentro e um fora, precisaria eu saber de tudo? Olha você me pressiona a ser mulher demais, a ser mulher inteligente mas eu sou frágil também e os medos se mostram de repente. Não, eu não sou hermética nem sou complicada, basta ouvir bem a respiração que traz consigo todas as vontades, é por onde vivo o máximo: respirando. Alguém me disse uma constatação tão bonita que dói não ter pensado nela antes: posso passar uns dias sem comer, mas nenhum sem respirar, e isso traduz o que quero te dizer. Em resumo abstrato e confuso é só ouvir minha respiração. Não , não eu não quero confundir, nem quero imprimir-te nenhum medo, é só uma carta estranha que impulsiona palavras a respeito do que quase sempre me movo: motivos. Lembro bem que quando te vi meus olhos arderam em desejo e a boca calou em suspiro. Em suspiro. Em suspiro. Acho que tu me entendes quando de minhas explosões te coloco no meio. Eu reverbero.
Fica mais um pouco...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Aos que caem

Então chega um momento em que a vida exige mais do que ser espontâneo, e as pernas fraquejam e nós desabamos em avalanches, sustos e desatinos que calam nossas bocas em suspiros.
Parece injustiça, mas é a máquina do mundo.


Ao confronto e além!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Diversonagem

Antes de tudo era o vazio das horas oceânicas e o Saara de páginas a desafiar meus dias.

Antes do extraordinário eram as hemorrágicas aparições, os derramamentos despudorados e as palavras em demente êxtase.


Antes, bem antes...


Agora são os instantes a passar, e a morte a clarear os fios nas cabeças dos humanos. Instante confuso...

Amanhã,(doce planejamento ridículo) talvez nasçam as histórias certas.

sábado, 26 de julho de 2008

Definições

Literatura de beira de abismo.
Lirismo de ponta de esquina.
Estilo mimeografado.
Movimento concretinos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

A imagem no espelho me responde: eu não erro!

Eu sabia que uma hora a explosão viria e voilá! Cheguei ao ponto extremo, quando é que não chego? Umas tantas coisas que se acumulam para derramar e em diversas explosões transformarem o contexto em dor e sal na boca.
Eu não sou agressiva.
Um dia quem sabe...
(alguém tem obrigação de saber?) se é que há algo a ser conhecido de dentro do cerne maldito que emana falsas expressões.
Cansada, partida ao meio.
Adoece-me ser sensível.
Ainda assim...
sim eu vou sorrir na decadência, que eu sei, eu traduzi de algum lugar, a decadência é a total presença de consciência de mundo, pensar demais adoece, o sangue não para de correr por que não pensa.
Talvez, se um lugar de salvaguarda garantida me aparecesse, eu pudesse ficar inconsciente de uma vez e parasse de correr com as pernas pro ar: esperneio infantil.
Sei não, tudo tão assim perdido, tanto a mil: agônica.
Vale a pena não, mas cresci assim... a mil por horas e horas, consciente de tudo, mas sem deter o controle dessas alterações. Desequilibrada?
Não permito mais do que estes pequenos parágrafos e umas tantas doses de algum entorpecente qualquer.

- Te cuida!
- Ta...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

da competência, ou a falta dela...

Já estou cansada de escrever sobre metafísica.
Por vezes esqueço de sonhar e nunca aprendi a contar histórias..., é estranho, mesmo escrevendo desde sempre eu não sei contar histórias. Apenas reescrevo a minha, todos os dias...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Acrílica e pastel

Foto: Talita Arre

Intervenção para todos os sentidos
Realizado pela Kitupira produções. Um belo dia...

terça-feira, 8 de julho de 2008

Conto-confronto

O personagem rude atravessa a rua, a personagem fria desliza.
O personagem exausto grita escuro, a personagem enérgica se cala nas pálpebras fechadas.
O personagem rouco se dobra e desdobra, a personagem bailarina de pupilas arredondadas abarca o sorrir...
O personagem disposto se oferece em favores, a personagem ingrata se orgulha de precisar calada.
Uma batalha vã que se resume ao palpitar macio, mãos frias, preocupações extensas, pensamentos em demasia, conselhos sem sentido, sentidos sem rumos e pretérito-mais-que-presente.

No fim das contas, paga-se à vista e a carne é triste e gostosa.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

como disse uma amiga: Tudo se resume a nada.


dá pena! E vontade de rir de mim.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Da necessidade de falar

Queria vomitar sem frescura
abraçar o vazio, infinito
gritar no escuro
inventar uma luz.
Queria não, quero...
querer sem vislumbre,
um momento,
breve,
um instante de faltar ar.
Quero querer-me intensamente...


Insano não perceber
que a voz propaga como silêncio
a angústia que mereço ter.

terça-feira, 1 de julho de 2008

.

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Me deixe em paz...
Fique perto.
.
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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Incompleto.

Pausa.
Ela entra caminhando vagarosamente:
Está perdida em alguns pensamentos, com uma expressão densa no rosto.
Fotografia: Uma sala desarrumada, algumas roupas num sofá carmim antigo, e a moça sentada no chão, recostada numa mesinha de centro.
Ela suspira, não de alívio, mas sim de cansaço, de ausente resistência...
Levanta-se.
Pausa.
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.
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Prepara um café, e procura alguma qualquer distração além da água fervente, além dos dedos tortuosos, além dos dias retardantes, além dos segundos todos, segundos decisivos, todos eles, decididos a não proclamarem mudanças. Ela não consegue nem chorar.
Volta à sala.
Pausa.
.
.
.
Os olhos ardem de estarem fixos numa janela escura.
Os lábios ressecados, unhas por fazer: pensa na negligência consigo, em todos os dias que transcorreram profundos de solidão, em todas as dores ignoradas, pequenos transtornos cumulativos, amizades com pitadas de repressão, banzo sem fim nas insones noites absurdas.
Não há motivos claros. É tudo nebuloso, é um desagravo eterno, queria ser objetiva, ela só queria ser menos assim do jeito que é, ela só queria dançar mais vezes no compasso ditado pela doce vida! Açúcar e afeto numa alteração só.

Fugira tantas vezes das mesmas horas de entrega, fugira tantas vezes das mesmas sobriedades, fugira tantas vezes da felicidade, fugira tantas vezes das notas musicais certas.
‘Tudo é relativo.’, sempre fora sua desculpa preferida para não ter de opinar, para mais uma vez fugir, fugir e fugir,...
Pausa.

Pausa de alguns meses.

Pausa a vida, o tempo não passa... De tempo.
A beleza dos dias encanta a tantos, o ritmo de tudo que é tácito... melhor olhar acelerado, assim pra embaçar, misturar formas e cores.
Ela existe e nota isso neste instante. Insuportável existir, precisa ser muitas.
O café está frio, as mãos ainda tremem de sua exalante fraqueza.
Fotografia: Uma mulher sentada num sofá carmim antigo, uma xícara de café frio e uma percepção fraca de mundo.

Pausa.
.
.
.
Como que se faz uma tradução de mundo?

Ela observa o próprio corpo com amor. Sim, ainda há amor.

sábado, 14 de junho de 2008

Campos por mim

Da minha janela não posso ver nenhuma Tabacaria.
Da minha janela nenhuma metafísica desfila em pedra ou flor.
Não digo que sou nada, tampouco tenho todos os sonhos do mundo:
me sinto muito mais um mundo de sonhos que desemboca em nada.

(Ei! Esteves sem metafísica! Me traz um chá de quebra-pedras,
a dor me consome e eu parei de fumar... soul toda ansiedade pós-pós)

Tenho as mãos e os pés suados
e vejo tantos com tantas máscaras tecidas à 4, 6, 8 mãos...
ou mais, ou não...

Tentei traduzir tantas coisas:
...
passado presente
atrevimentos que adentram na pele,
rasgam a carne,
se prendem ao cerne
e cicatriza humano.

Possuo também aquela costura no juízo,
e mergulho no talvez
se
se ... corresse o mundo,
se eu fosse a filha da lavadeira,
talvez ... fosse bem mais discretamente infeliz...

Talvez, quando parar de me indagar,
eu seja completa.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Só a loucura


Ria sozinha quase o tempo todo,
uma moça magra querendo controlar a própria loucura,
discretamente infeliz.
(Caio Fernando Abreu, in: O dia que Júpiter encontrou Saturno)


Do que eu tenho n'alma não dou conta. Automóveis e beijos escorrendo como líquido. Do que eu profundamente recordo não altero nenhuma dor, nehuma lástima me faz atrito, nenhuma paixão se faz pudor. Do que, emaranhado em meus cabelos, deixa de ser anunciado não faço meias idéias, nem transmito palavras, assanho-me num segundo escolhido, almada demais.
Se digo que sou, toda toda, toda soul, é uma estória sem limites é não suportar o real, o deserto turbulento do real, a solidão que não se dá e a sede que não cessa, não apara dúvida alguma, não permite destemperos.
Dizia eu que poderia dominar tanto, dominar tomando espaços, mas continuo discreta, numa risada só, um disfarce estranho e que nem eu mesma me percebo vezenquando...
Dizia eu que poderia voar, mas prefiro passar de leve os dedos na seda, só pra ter a sensação de existir imensa, de não destruir o delicado.
Dizia eu não querer dizer mais nada, não poder saber muito o que me rodeia, dizia eu que falava demais, e tudo no mundo eu dizia consciente, com alteridade até.
Me permito.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Exibição única

Uma esquina se esquiva
De danos irreversíveis
Se desdobra em mil artes
Fugindo das dores.

Uma hora noturna altera
Qualquer rosto vulnerável
Esse meu, então,
Nem se fala
É um palimpsesto maldito
Mil faces numa cara!

Meu caro,
Queria só garantir
De recostar meu sentir
No teu contente
Entende?
É uma questão de
chover mais na frente
O que era previsível.

- Mais explícita?
É simples:
Baldeei uma vida inteira
Exclamei ventos
E abracei portas...
Mas só queria entortar o penso
E me fazer notar
pela peça mais imponente.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Banzo

Já chegou batendo portas..., desejou intensamente que os ventos levassem os gritos, que as horas passassem bem rápido, que a luz não viesse em raios que machucam tanto os olhos.
Retrucando tudo, resguardando-se do perigo de se mostrar demais : hermética. Nada de intimidar nada, ela era ela na hora mais exata possível. Um frasco frágil de burrice na medida certa.
E olha que todo dia era o dia todo de demasias perigosas, de respirar, de doer, de transgredir alguma vírgula precisa. Precisa disso?
Acordar nunca foi o seu forte, muito menos dormir... mas prefere sonhos silenciosos, prefere a calma penumbra, não quer mais correr. Não quer mais fugir... nem saber de si direito...
O rosto é um palimpsesto: sorriso em primeiro plano. É preciso olhar de perto...
As mãos extravasam um ofício tão enaltecido pelos sentidos, uns acontecimentos sonoros, coloridos e reais.
Sabe o que é? Só prefere realizar o múltiplo que existe dentro de si... tudo palpável.
Só precisa de paz essa criatura que não descansa nunca, infernizada num banzo sem fim, numas horas em que acredita não existir par para si.
Que que há?

O que é que há?
Talvez o nada em demasia prejudique.
Talvez o exagero e a inconsequência...ou quem sabe a dúvida...
Talvez a burrice seja um empréstimo genético: uma continuação da estirpe dos exagerados que se sentem grandiosos e exaltam loucura. . .

Queria tanto abraçar o tudo!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Existe um par de mãos me perturbando de uma tal maneira que nem a extensão do meu sorriso me abarca.

Só para não explodir...

Sou a favor dessa desavergonhada forma de sentir, a mais descarada possível. Assim como sou a favor de me arrebentar na parede várias vezes antes de ter certeza que não há portas... aí eu pulo a janela com algum pensamento roubado deliciosamente de algum texto dobrado dentro de minha bolsa.
Que seja!
Que sejam...
Sejamos!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Penso em deixar a vida

como uma flor na calçada é deixada.

Com lentidão na queda,

com desdém no gesto

e com amor na alma.

sábado, 17 de maio de 2008

sábado, 10 de maio de 2008

Inerme.

Acordou assustada. Não entendia bem o motivo do susto, apenas sentiu o suspiro invadir-lhe o corpo de forma abrupta, apenas deixou-se tomar pelas tramas internas, pelos dias anteriores, pelos apertos na garganta tantas vezes amarrados.
Sentou-se. Ali, as horas não iriam passar. Era como se no momento da indisposição o mundo inteiro mergulhasse no vidro, tudo pausado, petrificado, uma pequena morte.
Doía-lhe a cabeça, e os olhos permaneciam com toneladas de devaneios. Esticou as pernas produzindo ruídos que acordavam nervos e veias...
Fez uma breve menção de levantar-se, mas ainda não poderia. Os devaneios estavam por demais pesados. Olhou em volta: o chão continuava sujo, papel em toda parte, cabelos que haviam caído, algumas roupas e o frio da noite. Estava confusa no quarto, crescente desejo de se encontrar.
Olhou o corpo marcado dos lençóis que passaram a noite tentando adentrar na pele, sentiu a areia que ainda incomodava os olhos.
O susto ao acordar não fora suficiente para que se levantasse, não havia nada que a fizesse acreditar. Não. Nenhuma negação, nenhum impulso, nenhuma pulsação. Tudo aquilo era vazio o suficiente para mantê-la inerte. Preenchido de vastidão, o ar parecia pantanoso, atmosfera que causava-lhe danos trazidos pelos sussurros da brisa, sem forças, sem calor.
Finalmente o Sol invadiu o recinto. A noção de tempo veio com ele. Olhos fechados com força.
De pé.
Ensaiou passos trêmulos até a porta, encostou-se na parede, sensação de desamparo. Mas como? Tinha tanto tudo... cada pedra que se podia sentir o peso, sentia as mãos alheias lhe atravessar o corpo, cada peça de roupa, cada cor na pálpebra, uma costura no juízo. Todo o vazio do mundo. Todo o sentido de insuportável viver. A falta de saúde de ter nascido.
Tinha tanto tudo tanto!
Se sentia, no âmago, uma cicatriz na terra.
De volta à cama recostou a cabeça nas mãos (quase sempre vazias). Foi cerrando os olhos, cortando vagarosamente a paisagem do quarto minguante...
A ultima visão que teve fora umas tantas madeixas negras se movendo à brisa matinal. Se permitiu o prazer de querer alguma coisa: sonhar.Talvez sonhar-te.

ah ssim!

E numa dessas esquinas irreversíveis, não me esquivei mais: pulei no abismo e fui abraçar aquela estrela!

Ao som de minhas alegorias ou detalhes de um incômodo

Um susto que imprimiu espasmos de desejo. Um jeito de quem se importa com cada detalhe surdo. Uma fala para cada hora premeditada. Um desenho manchado, destinado, absurdo. Um sussurro. Um gemido. Duas, suas, mãos. Meus ouvidos... um encontro, um incômodo...

Um gênio, porventura, tramou cada ato... como dizia Lampião: 'Uma bala para cada macaco'.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Um porém terrivelmente gostoso...

Andando com o vento penso melhor, parece impulso, mas é quase razão.
Ainda ontem eu estava fora do contexto de tudo, acordei com um rompante, um grito absurdo e cheio de vermelho, e saí com todos os rumos do mundo pressionados no meu corpo. Adorei.
Mergulhei tensa e saí abençoada de todos os modos inimagináveis que se puder descrever...
continuo
andando com o vento distraída da dor,
contraída de tesão juvenil pela vida,
estou sorrindo e preciso recuperar as horas largadas, preciso alterar as cores, fazer mais um contraste, um contrato, rasgar pequenas decepções e seguir, para todos os rumos do mundo, irresponsável, ou respondendo só o que me apetece.
Eu amo.
Eu soul toda amor.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

da arma maior

armação

da alma maior

solidão

pós materno.

Sou uma concretinista.
Concretinos.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Explica-me o que te encantas...

Alguns abraços me apertam e fazem o sentido escorrer...esvazio-me, quando não, ex-vazio-me. Penso nas horas furtivas, nos minutos degustados sem pensar, nas escorregadias manobras onde horas depois soergo-me definitiva, tão definitiva quanto uma dúvida. Traria mais segurança se eu decidisse, traria mais tédio também... menos tesão, menos vida. Os sentidos que a vida coloca são inúmeros: escolheria eu falar do preço da comida ou das guerras? Ou comentar que a natureza está aí, como sempre esteve e sempre vai estar...nós babacas que tentamos 'salvá-la' de nós mesmos vamos sumir, e ela vai se reerguer... Eu poderia comentar da fome, da miséria, da corrupção que faz a minha, e a vida de tantos, mais e mais complicada nos trâmites burocrático-financeiros...
Mas o incrível, porém real, é que escolho discorrer e escorrer sobre os sentidos, os quereres, os tácitos momentos, as gotas d'agua, os olhares, as luzes... tantas notas musicais que promovo aqui, ali, acolá...É gostoso, é um incômodo até, trabalhar com essa parte do ser humano que faz todas as outras acontecerem, que faz tudo enquanto ser um caos delicioso.
Alguns dizem que para mim tudo é muito escorrido e gostoso, que para mim tudo é muito molhado ou tesudo, que eu deixo nebuloso ou que sou sonsa mesmo... Apenas escolho esses caminhos por me darem prazer, seria eu uma folha de papel amassada, ou um balão murcho no fim de festa se não falasse sobre isso... Seria eu apenas mais uma palha escorando a agulha que caiu no palheiro, enquanto que almejaria ser a tal da agulha.
Sentir é.
São essas luzes que recheiam nossa carne e que fazem com que o resto da engrenagem se mova,... seja ela o tal comboio coração, ou a massa cinzenta e brilhosa, são essas luzes que me encantam... até quando estão apagadas.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Proclamação da Penumbra

Cerrados olhos se abrem:
As cores estupradas de luz
agora são frias...
almejam coisas quentes!
Tudo espasmo dilatado
no desejo de per ver, ter!
No desejo de tocar
de comer com os lábios que têm cílios.

Olha, ela dominou o instante
com música contemporânea,
tempero decente,
momento molhado: penumbra!

Parece leve a densa dolorida
Parece leve a ausência que consome
Perece tudo quanto,
tudo enquanto,
quase como!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Todo dia é dia de poeta, e hoje da poesia.


Ja não se fazem manhãs
como antigamente
as manhãs precediam os dias
durante dias
e assim permaneciam
por todas as manhãs

as manhãs não tinham manias
alvoreciam sem artimanhas
amanhecer
único dever das manhãs


hoje as manhãs

são simples manhãzinhas
comedidas, simplezinhas
as manhãs de hoje em dia
deixam sempre pra amanhã
o amanhecer que era pra hoje
logo de manhãzinha


solda


**************

Nada com uma boa poesia, assim, de manhãzinha!

Cachorro Louco - Poleminski!

"Ai do acaso se não ficar do meu lado!" (P.leminski)

Hoje é dia da poesia. Pelo menos é o que diz o calendário, e o que comemoram algumas professoras de ensino fundamental...
Escolhi para comentar alguma coisa de Paulo Leminski, aquele que eu leio e digo 'putaquepariu!', vai ser o primeiro da série 'putaquepairu!', os artistas-brincantes-mestres da expressão que me afagam, intrigam, me enraivecem por terem traduzido meu inconsciente e o de mais uma ruma de gente!
Olha, o cachorro doido foi poeta, tradutor, professor e faixa preta de judô. Era todo poesia. Tem uma vasta obra que inclui a genialidade do hai-kai (comprimidos de expressão, verdadeiras fotos!), parcerias musicais, tudo numa forma de se expressar que é absurdamente única.
É melhor deixar ele mesmo falar:

O Paulo Leminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

(Paulo Leminski)

Não deixando ninguém na mão, tem um site que o design é bacana e tem alguns trechos de livros e traduções que ficaram interessantes. Olha só: Kamiquase

e pronto! Erra uma vez.
Falei dele um pouco, não o suficiente para expressar, mas acho que instigante para fazer alguns lerem. Vale a pena.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Silêncio

Imagem: Usbekistyle.de

Tempo vento, só se transmuta em silêncio. Pode ser um silêncio ambiente, ou apenas mental... mas as permutas se prontificam no silenciar da alma.
Estive lendo e relendo alguns sítios da internet que costumava ler, descobrindo outros e me deparando com situações inusitadas... humor, ou mau humor, e um bocado de dor de cotovelo!
Estou numa fase estranha e parada em relação aos escritos, elas sempre ocorrem após um período de criação intensa. Gostaria de estar como um amigo que ainda ontem me disse que estava apenas contando as contrações e respirando fundo! Um trabalho de parto e tanto... a cria há de ser esfuziante!
Mas... não estou. Estou me perguntando, me indagando da minha capacidade... me indagando da minha vontade, do meu parlar, transformar o subjetivo...
Me observando, me lendo, me abstraíndo e, por vezes, me lendo com simplicidade.
Sempre precisando.
Ansiando.
Dia desses vi umas figuras fazendo piada com Fernando Pessoa, lendo Poema em linha recta
e imaginei o que diria Álvaro de Campos... Talvez até gostasse...
e eu mergulhada em seriedade, não sei de onde que surgiram essas rugas na cara! Sol?
A vida me bate e eu nem revido... parece que vou perecendo sem notar, incrível como as coisas se acontecem nas nossas mãos, nos nossos olhos, na nossa vida.
As coisas, temíveis coisas, se acontecem.

segunda-feira, 10 de março de 2008

!!!

O importante, pois, é poder conhecer e traduzir para o consciente a linguagem do inconsciente. Como fazem os poetas e os amantes. Porque eles sabem, de um certo modo, que estaremos todos, sempre, em cada um.

(Roberto Freire, In: Sem tesão não há solução.)

sábado, 8 de março de 2008

é isso bem daí...

http://www.youtube.com/watch?v=uOyTt4LGiWI

Boa noite e boa sorte

Não que eu queira negar, mas...

olha, não precisa teatralizar tudo! Não dá...
Me pessoalizo: 'Eu, tantas vezes vil!'... 'Nunca conheci quem tivesse levado porrada'...
Belíssimo parlar de novos hipócritas! Belíssimo parlar de pequenos versadores da nova moral da vida.
Despejar algumas subjetividades sobre minha cabeça não adianta: desfaça o falatório e não disfarce nada em historinhas do século passado.
Acordei hoje me pesando, do outro lado algumas palavras jogadas, alguns textos embromados, uma estrovenga só: e adivinha?! A vida ainda vence.
A vida não é doce, a vida nunca vai ser um algo com cheiro leve, a vida é dolorida, deliciosamente dolorida e deve ser rasgada, atrevida e com possibilidades incontáveis...sem verdades absolutas, nem mesmo as verdades que proclamo dizer abertas... a vida é. It.
Apaixão. A apatia do lado de lá não me agrada e não vou me esforçar tentando entender o motivo de não haver par para mim nisso tudo...Não há par para mim na vida vil, nas horas erradas, não há par na vida que me acompanhe nestas errantes horas de doença vital humana. Amigos amigos, perfeição não há.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Reflexos: amplexos exagerados de uma cubista nervosa

"And sometimes is seen a strange spot in the sky
a human being that was given to fly"

(Pearl Jam- Given to fly)


Duplamente humana, dupla mente humana.
Uma auto definição que serviria para muitos nas mesmas agonias que eu, nas mesmas luas e fases... me orgulho da contradição, me desfaço em 3 segundos, me embaraço por muito pouco e cresço com a cara arrebentada...
A vida é muito bonita, e a carne é triste: não se salva, só se humilha, se maltrata, se faz sentir.
Faz sentido? Faz sentir...
Não me dói nenhum mergulho que dei, não me destrói nenhuma pétala desfalecida, não sou criança, nem sou menina: mulher.
Força, com todos os embaraços, com todas as horas mal calculadas, as noites acordadas, os nós por desatar, mais e mais viver, parir a experiânsia de infinito que me acompanha nas horas extremas: nos apaixonemos a cada instante, todo dia mês ano milênio segundo milésimo centésimo milésimo de centésimo de segundo...
A destruição é maravilhante a cada momento que você se dispõe a voar!
Fechei os olhos e não medi os passos...
Talvez que não seja bem o certo, talvez não seja bem o errado, mas me pergunto o que é viver, me pergunto: as pitadas de temperos a quantas andam nas mãos da lógica do mundo, a quantas andam as pitadas que eu mesma escolho no contexto?
Olha é uma coisa sem rumo, dois degraus sem rumo, sem início, sem fim...nascer e morrer.
Este breve instante entre os dois degraus é precioso.

E é nesta hora que proclamo: derrame-se! Vai passar pela vida sem respingar em ninguém???

segunda-feira, 3 de março de 2008

Dia ávido.

Diário:
Resolvendo-me! Ainda sem rumo para certas aparições poéticas... andando perdida é o que estou.
Fico revolta, fico vazia... fico ansiosa pelas horas de dificulto parto literário...
Acordei assim esses dias: com a pele oleosa, a cara amassada de travesseiro, um breve mal humor de quem não dormiu, umas horas me esperando e a pressão diária segurando minhas mãos.
Preciso de mim.
Preciso descartar hipóteses, abrir umas janelas, tomar um chá e dormir bem.
Ou não...
preciso apenas experiansiar algumas vidas diferentes, dar passos incertos, talvez nem dormir...


preciso precisar!

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Confunções

(Ou a confusão poético-funcional dos órgãos)

Baseado em trechos do texto Part.indo o ser. Parte 1 (cabeça)
de Laís Romero

Bem lá no centro,
No meio, no olho,
Eu me perdi.

Os pelos, os lábios, a umidade,
Nos olhos...
Eu vi.

O enamorar-se no olhar
Surge de um orgasmo ocular

Grandes lábios
Pálpebras,
Olhos grandes
Ósculo,
Cílios,
Vênus...

O enxergar é copular,
Coóptica,
Fomentar.

As imagens penetram,
Rompe-se o hímen,
Imaginem...

Vulvisão.

Fúlvio D'Alambert

um porém

Faz mais ou menos meia hora que escrevo e apago. Leio as palavras soltas, me acho babaca, não me encaixo no mote que eu mesma proponho! Andando a esmo! Detesto isso, precisando definir, traçar o objetivo dessa escrita: quero falar de algumas perturbações atuais, como crônica.

Crônica craniana, crônica que me deixa impossibilitada de ser imprecisa. Crônica que me deixa, que me deixa de lábio escancarado, amor aflorando na ponta da língua que lambe o suor do rosto cansado de êxtase.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Experiânsia

Indeciso, o minuto parou
e de repente as planícies internas estremeceram...
Pernas corriam
olhos reviravam
mãos se dedicavam às texturas

Mas o minuto parou
parou
Entenda:
as coisas eram como tu montava
as coisas todas
só existiam nas tuas mãos
tu monta e desmonta cada decepção...

(Pàra de se alimentar de coisa irreal,
metafísica não enche barriga de ninguém!!)

Ainda está parado o minuto
congelado
entretido com os próprios dedos
escorrendo ansiedade
atrelado à indecisão:
pra onde?

Não se pode esperar nada
não há tempo para passar
O minuto quis girar
quis crescer e virar hora
e na ânsia diária de ser mais que 60 segundos
parou.
Pausou.
Doeu.

Fiou seu tempo
firmou seu termo.

O minuto está parado,
e algum disparatado,
fala sábia e com amor:
- Dê tempo ao tempo meu bem...tudo precisa de umas horas para crescer, de uns dias... as mudanças dóem com o tempo tudo sara, com o tempo as asas nascem... o tempo voa, nem precisa esperar!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

1 minuto pensando.

asterisco, ponto e vírgula...

sabe que às vezes fico presa no foco do cansaço?




****
imagine-se em suspensão
em abrupta pausa

esvaziei um capítulo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

solução.do

O nome daquilo que quero não existe
não persiste na mente
simplesmente aguço os sentidos
esquivo-me-
transformo

Aquilo sem nome
só precisa existir
pra eu pegar

fiquei cega confusa
coberta de carne
histérica no cerne

ainda ainda
somente
mente difusória
atinge as paredes permanentes

olha,
queria um tiro certeiro
uma dor peregrina
uma bola de espuma
simplesmente
encontrar o perfeito
ao dobrar a esquina;

mas, me diz
o paradoxo agudo
perfura os seres
transcende cada lindo discurso

mas, me convence??

não quero
.



conversa pra boi dormir
vou pedir e perder um gole de café.

ficar em cima da casa, dobrar as folhas
subir no avião de papel
decolar na solução da rima
e ir embora.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Part.indo o ser. Parte II (tronco)

Expirou... Transpirou, pairando sempre no ar os seus movimentos iguais às ondas de um lago qualquer de foto de calendário europeu, ondas feitas por alguma pedrinha jogada a esmo... Uma pedrinha que carregava algum peso inominável.
Ainda estava parada, ainda ainda, esperando algum alguém, esperando algum quando quanto, esperando qualquer onde que tirasse seu corpo daquela angústia: não notava o próprio poder, não notava e nem queria notar que crescera, que o tempo nunca vai ser feito de um primeiro, são segundos e mais segundos que não esperam por nada.
Doía-lhe o peito. Uma dorzinha aguda bem entre os seios pequenos... sentia essa dor a cada hora indecisa, a cada grito não dado, a cada choro preso. Maldita dor... talvez que fosse só uma impressão essa expressão corpórea: o que quer dizer meu peito?
Levantou-se, e respirou dolorosamente, com as mãos livres e os sentidos atados continuou a caminhar...Queria estar contaminada da anestesia geral que a cidade havia tomado, queria rever os amigos que não haviam sido anestesiados, queria partilhar a dor no peito, queria brutas flores... Brutas flores nos desertos delirantes do sem fim que é sentir: pra quê anestesiar o que se há de melhor, o que se é de maior?
Não, nunca quis anestesia... de repente ela explode multicolorida...
Sempre foi maior.
Sempre viveu no limiar das palavras grandiosas... , sempre inerente às metafísicas da vida, viva vida beija flor...
Atravessou mais uma rua imunda, um automóvel passa e ela se vê refletida, não pôde ver os olhos, viu apenas os lábios, o tórax, e se esforçou para ver sua dor refletida no vidro que se borrava de chuva, tudo se borrava de chuva naquele instante...
Queria sucumbir de joelhos e beber da água que descia ácida do céu.
Era sim uma cicatriz na Terra.

(continua...)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Part.indo o ser. Parte I (cabeça)

Os olhos estavam quase se fechando por causa da poeira que adentrava sem pudores na região mais erótica do corpo. Zona erógena mesmo, pense: o olho excita o corpo, o olho é molhado e possui lábios, pêlos, o olho transborda emoções sexuais quando se quer. O olho come as pessoas que desejamos, o olho se entrega, o olho pede muito...o olho às vezes se perde.
Os braços estavam perdidos , sem muitas forças de fôrca como todo braço contém, todo braço quando se dedica a um abraço une em um coração as forças dos quatro braços. Piegas mesmo, mas o prazer da simplicidade verbal é: não dá pra mentir com essas poucas e fáceis palavras.
Caminhando, caminhando com os passos onde os pés não deixavam de tocar o chão, passos que carregam pesos inomináveis, talvez um suor nas plantas dos pés facilitasse essa caminhada abstrata que está a ser descrita aqui. Onde estará indo esta persona? Por quais caminhos ela se leva, eleva??
Finalmente abriu os olhos duros, hoje esses olhos estavam assim um tanto que endurecidos/enfurecidos cheios de vontades, mas realizando imagens hipócritas e pequenas. Tudo tão pequeno, tão pequeno perto da grandeza da... ah! Nem vale a pena pensar, pensou!
Continuava para lugar nenhum e no chão traduzia as escolhas: cada passo, cada movimento era uma entrega do que era, e sempre foi assim, muito exibido esse seu âmago, muito excitado esse seu tempo... vivia a espiar as faces alheias para colher sementes sentidas de poesias difíceis, palavras fáceis.
Parou. Ela (é ela) parou numa calçada qualquer, numa veia da cidade por onde circula o veneno, imaginava-se numa veia onde o sangue era trazido das cabeças da cidade, as cabeças que sempre estão a tomar vento, cuca fresca, 'os edifícios'... Parada não precisava gastar mais energia colocando um pé a frente do outro, quase se arrastando por estar pesada demais: pesada de quê criatura??? Pesada de pensar, sempre a pesar, muito difícil de prezar! Era assim, o que deveria, o que haveria de ser feito?
Fingir?
Algumas vezes tentou fingimento, mas não conseguiu muito sucesso, apenas despencou de novo... é a realidade baby! R e a l i d a d e...
O céu, olhou com os olhos escancarados de prazer o infinito céu, infinito é o que dizem... na sua visão ele sempre vai se encaixar, mas ainda há de sobrar,... isso incomoda tanto: o céu nunca vai caber todo! Não cabe!
Respirou...

continua...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Sover, chofrer ( título extraído de um texto de thiago e)

Olha,
eu até que queria brotar uma história hoje, mas criei uma série de empecilhos maldosos... de sentimentos que atormentam... criei tudo para não brotar.


...



Hoje é dia nublado no céu de dentro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Oração substantiva subjetiva direta

Respiração compassada
as mãos e os pé trêmulos
no permanente mutado humano
na carne
no cerne
no viver de toda hora recolher
recolher a cada espasmo o não-normal
restaurar cada lasca de pedra que se solta
que remota remonta uma vida que não é nossa

imagine-se não sendo
imagine-se não penso
não torto
não imaginando

recolho os cacos espalhados
de explosões mentais
recolho os muitos transbordantes
recolho o sentir dentro do infinito
recolho no sem fim
recolho no muito
recolho para não conter

contradito
contraído o músculo maior sempre pulsa
contraio cada prédio da cidade
cada carro que me esmaga
me engasga com a fumaça
cada cigarro contra o peito
cada mão
cada (pre) conceito inaudito, fingido.

Não, não sou nada. Imagino?
Só o caminho corrente é o mais penso, penso de pensar...
Só o dia de hoje me convém,
amanhã sempre estará tudo bem!
Só o agora interessa,... amanhã?
Não eu nunca tive pressa de fazer esse inominável!
O amanhã não existe meu bem!

Segundo
segundo
segundo
60 segundos e não há um primeiro
é sempre o segundo que vem e não se percebe que já



j...
passou!

Repito
sou reescritora
e os meus gritos só ecoam...
no tempo vivente na esquina do vento
meus giros ressoam cada humano nó, nós todos

Impressiona-me sempre
esse correr sem sair do lugar
refletir-se no opaco mundo mudo
que pretende o que não dá
que promete o que não soul
não é contradição
é extração de matéria
substantiva subjetiva direta!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

sobre ser sociável...

Conversas curtas te convém, te convidam para encontros que nunca acontecerão: 'me liga, tá?'
E aí você, ingênuo, espera e liga de volta
e liga de volta
e fica envolto em mais uma névoa ridícula, em mais um disfarce que esconde a parte mais gostosa dos seres sociáveis: a sua solidão.
Os seres sociáveis deglutem solidão a cada instante: deglutem em sorrisos programados; em apertos de mãos frouxas que não se reconhecem...
Os seres sociáveis escondem as paredes rachadas de suas casas.
Os seres... Ah os seres sociáveis..., são tão belos, tão belos cabelos pervertidamente transformados, os corpos adequados, os sentimentos travestidos...
Os seres sociáveis trabalham muito, seriamente: não há espaço para gostar ou querer...
Os seres sociáveis só se entorpecem de bebidas altamente recomendáveis, de medicamentos receitados pelos seus psicopatas, de cigarros escondidos e outras sacanagens: tudo o que se esconde por detrás da maquiagem, vale tudo no sabor da sociedade.
Os seres sociáveis são os aceitos, os perfeitos, que quando se dão as costas se costuram, se cortam, se mordem, se tostam, se comem e fazem as melhores e mais maldosas prosas uns sobre os outros.
S o c i a v e l m e n t e, é claro!
Os seres sociáveis não podem, não devem respirar paixão.
Não podem não devem revelar solidão: é sempre demonstrado o mais pleno, belo e feliz sentimento.
Casados, solteiros, sociavelmente discretos não podem sair do contexto.
Têm de usar o bom senso. Fazer de tudo um comentário. Sair na foto, abrir o armário, calçar sapato, arrumar cabelos, o olho, comprar mais espelhos, sorrir o tempo todo.
Ah!
Por favor!
Não quero ser sociável, já me bastam as desgraças mundanas...
Prefiro me nutrir de amor, sacudir os ombros em desdém apaixonado...
Prefiro me segurar com força nos cabelos da vida... me mostrar, me contradizer deliciosamente...
Humana, cicatriz na Terra.
Prefiro ser.
Ser.
É.


Laís Romero

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Oswaldiando meio a mirar o mar...

Tentativa antropofágica pós - pós: (pós o quê mesmo?)

Diagnosticada a regurgitação de pregos, pedras, placas e parafernalhas da evolução.
Devolução imediata!

A carne é triste.







Laís Romero

domingo, 13 de janeiro de 2008

Descida

Preciso de silêncio, de silenciar tantas vozes que ficam a repetir motes e palavras, reticências...reticências...reticências...
Fica o contexto de minha boca exalando sinestesias abissais, é como uma profunda reflexão a respeito de cores e sons, cheiros e luzes, letras que falam e deixam as vidas mais reais.
Hoje não queria estar com essa impaciência dentro da mente, essa impaciência para escrever algo me toma, me transborda, me morde o espírito! Isso me dói, uma fragilidade que me deixa constantemente nua...Uma fragilidade maravilhosamente dolorosa...
Ainda persiste a impaciência, mesmo consistindo em umas poucas horas de inconstância.
Sabe, queria apenas escrever alguma coisa menos metalingüística, é tão simples mas tão.
O' tão', primo do 'tanto', alguma coisa do 'talvez', irmão do 'muito'.São assim que algumas palavras me convém e convém ao contexto, dentro das colorações em que alivio o peso de sentir todos os minutos, todos os estalos que o relógio dá quando algum segundo passa, sentir puramente sentir cada pisada no chão de uma forma diferente, talvez sentir até as famosas náuseas que alguns sentem com o movimento da Terra... absurdo gostoso absurdo.
A repetição que vem pra afirmar um sentir, e volto ao sentir...um arrepio constante vem instalado na minha parte esquerda do corpo. O que haverá de ser? É bom. Só sei disso... é um conforto que me distrai, me destrói também, me destrói a concentração de mergulho nessas palavras.
Quebrando, quebrando de forma sutil o contexto, se é que há alguma quebrada sutil, quero me lembrar de que... é que, mais ou menos...vou lembrar...é...
Preciso de mais silêncio, preciso de menos precisar, de mais reagir de tanto tão tudo contanto todavia não obstante entretanto talvez contudo... preciso tanto de mim.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O parto

Interessantíssimo é reler o que já foi transmitido por mim. Todos os disparates e tempestades cerebrais: escrevo para me ver livre, para tirar de dentro de mim essas inquietações horrorosas que perturbam o tempo todo. É como uma gravidez, mas é bem dolorosa e angustiante: um sentimento que não sai de dentro de ti por nada! Nem por um ato institucional n° 05! Só sai quando está prestes a morrer...aí sai, morto! Tanta poesia que não disse, tanto sentido sem tradução...
Quando se consegue parir o sentimento , seja em cores ou em versos, as palavras são irremediavelmente jogadas em cima de quem as lê. É sim! Você que tem paciência de ler tantas linhas, de comer tanta coisa ao mesmo tempo...sem nem se importar se vai digerir ou não...
As palavras ácidas, as que tentam ser hilárias, as palavras compridas, cumpridas... Não importa! Elas sempre vão tocar em algum lugar, elas sempre vão transmitir algum porquê...
Escrever não é uma delícia, o delicioso é se livrar do que se sente por tanto tempo, é desabafar o peso, de quê? Talvez da arte, talvez de um sentido qualquer comum que se instala e devora, que se instala e incomoda, que se instala e todo dia martela de alguma forma indefinida: só dá pra definir quando morre, quando morde, quando eu parir eu te conto...

Deixa pra lá...

Não quero falar de flores ou temperos.
Não quero negar a vida numa observação por escrito.
Não quero gritos nem rimas.
Nem me permito ao certo querer.
É tudo quanto penso um vidro embaçado,
uma pergunta que não sabe ao certo o que indaga.
É tudo quanto sinto uma alergia,
sem motivo claro,
uma textura sem sabor.
É tudo quanto quero uma quimera.
Repetição, alteração,
quimera eu.
Viver no desapique é desagravo.
Viver no alicerce da torre subjetiva.
Viver é desencontro,
talvez conquista: conquistar o que não sei se vou sonhar.
O que proclamam pós-moderno é pessimismo.
E o pessimista se ressalta realista.
E o bom leitor pula em cima da mesa e grita
que vai parar de ler tal poesia absurda.
Vai procurar um belo livro de auto-ajuda...

Laís Romero

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

.

Esforço pra ver
Esforço pra cansar
Pra cantar
Qualquer quantidade
Mera qualidade
Qualquer canção
Quimera eu sucumbir
Quimera eu reagir
Na imensidão azul
Oceano
Ocê ano
Ocê amo (clichê)
Mas o que é você?
Já nascer clichê
Era sim
Era assim pra ser!

Laís Romero