sexta-feira, 30 de maio de 2008

Exibição única

Uma esquina se esquiva
De danos irreversíveis
Se desdobra em mil artes
Fugindo das dores.

Uma hora noturna altera
Qualquer rosto vulnerável
Esse meu, então,
Nem se fala
É um palimpsesto maldito
Mil faces numa cara!

Meu caro,
Queria só garantir
De recostar meu sentir
No teu contente
Entende?
É uma questão de
chover mais na frente
O que era previsível.

- Mais explícita?
É simples:
Baldeei uma vida inteira
Exclamei ventos
E abracei portas...
Mas só queria entortar o penso
E me fazer notar
pela peça mais imponente.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Banzo

Já chegou batendo portas..., desejou intensamente que os ventos levassem os gritos, que as horas passassem bem rápido, que a luz não viesse em raios que machucam tanto os olhos.
Retrucando tudo, resguardando-se do perigo de se mostrar demais : hermética. Nada de intimidar nada, ela era ela na hora mais exata possível. Um frasco frágil de burrice na medida certa.
E olha que todo dia era o dia todo de demasias perigosas, de respirar, de doer, de transgredir alguma vírgula precisa. Precisa disso?
Acordar nunca foi o seu forte, muito menos dormir... mas prefere sonhos silenciosos, prefere a calma penumbra, não quer mais correr. Não quer mais fugir... nem saber de si direito...
O rosto é um palimpsesto: sorriso em primeiro plano. É preciso olhar de perto...
As mãos extravasam um ofício tão enaltecido pelos sentidos, uns acontecimentos sonoros, coloridos e reais.
Sabe o que é? Só prefere realizar o múltiplo que existe dentro de si... tudo palpável.
Só precisa de paz essa criatura que não descansa nunca, infernizada num banzo sem fim, numas horas em que acredita não existir par para si.
Que que há?

O que é que há?
Talvez o nada em demasia prejudique.
Talvez o exagero e a inconsequência...ou quem sabe a dúvida...
Talvez a burrice seja um empréstimo genético: uma continuação da estirpe dos exagerados que se sentem grandiosos e exaltam loucura. . .

Queria tanto abraçar o tudo!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Existe um par de mãos me perturbando de uma tal maneira que nem a extensão do meu sorriso me abarca.

Só para não explodir...

Sou a favor dessa desavergonhada forma de sentir, a mais descarada possível. Assim como sou a favor de me arrebentar na parede várias vezes antes de ter certeza que não há portas... aí eu pulo a janela com algum pensamento roubado deliciosamente de algum texto dobrado dentro de minha bolsa.
Que seja!
Que sejam...
Sejamos!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Penso em deixar a vida

como uma flor na calçada é deixada.

Com lentidão na queda,

com desdém no gesto

e com amor na alma.

sábado, 17 de maio de 2008

sábado, 10 de maio de 2008

Inerme.

Acordou assustada. Não entendia bem o motivo do susto, apenas sentiu o suspiro invadir-lhe o corpo de forma abrupta, apenas deixou-se tomar pelas tramas internas, pelos dias anteriores, pelos apertos na garganta tantas vezes amarrados.
Sentou-se. Ali, as horas não iriam passar. Era como se no momento da indisposição o mundo inteiro mergulhasse no vidro, tudo pausado, petrificado, uma pequena morte.
Doía-lhe a cabeça, e os olhos permaneciam com toneladas de devaneios. Esticou as pernas produzindo ruídos que acordavam nervos e veias...
Fez uma breve menção de levantar-se, mas ainda não poderia. Os devaneios estavam por demais pesados. Olhou em volta: o chão continuava sujo, papel em toda parte, cabelos que haviam caído, algumas roupas e o frio da noite. Estava confusa no quarto, crescente desejo de se encontrar.
Olhou o corpo marcado dos lençóis que passaram a noite tentando adentrar na pele, sentiu a areia que ainda incomodava os olhos.
O susto ao acordar não fora suficiente para que se levantasse, não havia nada que a fizesse acreditar. Não. Nenhuma negação, nenhum impulso, nenhuma pulsação. Tudo aquilo era vazio o suficiente para mantê-la inerte. Preenchido de vastidão, o ar parecia pantanoso, atmosfera que causava-lhe danos trazidos pelos sussurros da brisa, sem forças, sem calor.
Finalmente o Sol invadiu o recinto. A noção de tempo veio com ele. Olhos fechados com força.
De pé.
Ensaiou passos trêmulos até a porta, encostou-se na parede, sensação de desamparo. Mas como? Tinha tanto tudo... cada pedra que se podia sentir o peso, sentia as mãos alheias lhe atravessar o corpo, cada peça de roupa, cada cor na pálpebra, uma costura no juízo. Todo o vazio do mundo. Todo o sentido de insuportável viver. A falta de saúde de ter nascido.
Tinha tanto tudo tanto!
Se sentia, no âmago, uma cicatriz na terra.
De volta à cama recostou a cabeça nas mãos (quase sempre vazias). Foi cerrando os olhos, cortando vagarosamente a paisagem do quarto minguante...
A ultima visão que teve fora umas tantas madeixas negras se movendo à brisa matinal. Se permitiu o prazer de querer alguma coisa: sonhar.Talvez sonhar-te.

ah ssim!

E numa dessas esquinas irreversíveis, não me esquivei mais: pulei no abismo e fui abraçar aquela estrela!

Ao som de minhas alegorias ou detalhes de um incômodo

Um susto que imprimiu espasmos de desejo. Um jeito de quem se importa com cada detalhe surdo. Uma fala para cada hora premeditada. Um desenho manchado, destinado, absurdo. Um sussurro. Um gemido. Duas, suas, mãos. Meus ouvidos... um encontro, um incômodo...

Um gênio, porventura, tramou cada ato... como dizia Lampião: 'Uma bala para cada macaco'.