quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

sobre ser sociável...

Conversas curtas te convém, te convidam para encontros que nunca acontecerão: 'me liga, tá?'
E aí você, ingênuo, espera e liga de volta
e liga de volta
e fica envolto em mais uma névoa ridícula, em mais um disfarce que esconde a parte mais gostosa dos seres sociáveis: a sua solidão.
Os seres sociáveis deglutem solidão a cada instante: deglutem em sorrisos programados; em apertos de mãos frouxas que não se reconhecem...
Os seres sociáveis escondem as paredes rachadas de suas casas.
Os seres... Ah os seres sociáveis..., são tão belos, tão belos cabelos pervertidamente transformados, os corpos adequados, os sentimentos travestidos...
Os seres sociáveis trabalham muito, seriamente: não há espaço para gostar ou querer...
Os seres sociáveis só se entorpecem de bebidas altamente recomendáveis, de medicamentos receitados pelos seus psicopatas, de cigarros escondidos e outras sacanagens: tudo o que se esconde por detrás da maquiagem, vale tudo no sabor da sociedade.
Os seres sociáveis são os aceitos, os perfeitos, que quando se dão as costas se costuram, se cortam, se mordem, se tostam, se comem e fazem as melhores e mais maldosas prosas uns sobre os outros.
S o c i a v e l m e n t e, é claro!
Os seres sociáveis não podem, não devem respirar paixão.
Não podem não devem revelar solidão: é sempre demonstrado o mais pleno, belo e feliz sentimento.
Casados, solteiros, sociavelmente discretos não podem sair do contexto.
Têm de usar o bom senso. Fazer de tudo um comentário. Sair na foto, abrir o armário, calçar sapato, arrumar cabelos, o olho, comprar mais espelhos, sorrir o tempo todo.
Ah!
Por favor!
Não quero ser sociável, já me bastam as desgraças mundanas...
Prefiro me nutrir de amor, sacudir os ombros em desdém apaixonado...
Prefiro me segurar com força nos cabelos da vida... me mostrar, me contradizer deliciosamente...
Humana, cicatriz na Terra.
Prefiro ser.
Ser.
É.


Laís Romero

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Oswaldiando meio a mirar o mar...

Tentativa antropofágica pós - pós: (pós o quê mesmo?)

Diagnosticada a regurgitação de pregos, pedras, placas e parafernalhas da evolução.
Devolução imediata!

A carne é triste.







Laís Romero

domingo, 13 de janeiro de 2008

Descida

Preciso de silêncio, de silenciar tantas vozes que ficam a repetir motes e palavras, reticências...reticências...reticências...
Fica o contexto de minha boca exalando sinestesias abissais, é como uma profunda reflexão a respeito de cores e sons, cheiros e luzes, letras que falam e deixam as vidas mais reais.
Hoje não queria estar com essa impaciência dentro da mente, essa impaciência para escrever algo me toma, me transborda, me morde o espírito! Isso me dói, uma fragilidade que me deixa constantemente nua...Uma fragilidade maravilhosamente dolorosa...
Ainda persiste a impaciência, mesmo consistindo em umas poucas horas de inconstância.
Sabe, queria apenas escrever alguma coisa menos metalingüística, é tão simples mas tão.
O' tão', primo do 'tanto', alguma coisa do 'talvez', irmão do 'muito'.São assim que algumas palavras me convém e convém ao contexto, dentro das colorações em que alivio o peso de sentir todos os minutos, todos os estalos que o relógio dá quando algum segundo passa, sentir puramente sentir cada pisada no chão de uma forma diferente, talvez sentir até as famosas náuseas que alguns sentem com o movimento da Terra... absurdo gostoso absurdo.
A repetição que vem pra afirmar um sentir, e volto ao sentir...um arrepio constante vem instalado na minha parte esquerda do corpo. O que haverá de ser? É bom. Só sei disso... é um conforto que me distrai, me destrói também, me destrói a concentração de mergulho nessas palavras.
Quebrando, quebrando de forma sutil o contexto, se é que há alguma quebrada sutil, quero me lembrar de que... é que, mais ou menos...vou lembrar...é...
Preciso de mais silêncio, preciso de menos precisar, de mais reagir de tanto tão tudo contanto todavia não obstante entretanto talvez contudo... preciso tanto de mim.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O parto

Interessantíssimo é reler o que já foi transmitido por mim. Todos os disparates e tempestades cerebrais: escrevo para me ver livre, para tirar de dentro de mim essas inquietações horrorosas que perturbam o tempo todo. É como uma gravidez, mas é bem dolorosa e angustiante: um sentimento que não sai de dentro de ti por nada! Nem por um ato institucional n° 05! Só sai quando está prestes a morrer...aí sai, morto! Tanta poesia que não disse, tanto sentido sem tradução...
Quando se consegue parir o sentimento , seja em cores ou em versos, as palavras são irremediavelmente jogadas em cima de quem as lê. É sim! Você que tem paciência de ler tantas linhas, de comer tanta coisa ao mesmo tempo...sem nem se importar se vai digerir ou não...
As palavras ácidas, as que tentam ser hilárias, as palavras compridas, cumpridas... Não importa! Elas sempre vão tocar em algum lugar, elas sempre vão transmitir algum porquê...
Escrever não é uma delícia, o delicioso é se livrar do que se sente por tanto tempo, é desabafar o peso, de quê? Talvez da arte, talvez de um sentido qualquer comum que se instala e devora, que se instala e incomoda, que se instala e todo dia martela de alguma forma indefinida: só dá pra definir quando morre, quando morde, quando eu parir eu te conto...

Deixa pra lá...

Não quero falar de flores ou temperos.
Não quero negar a vida numa observação por escrito.
Não quero gritos nem rimas.
Nem me permito ao certo querer.
É tudo quanto penso um vidro embaçado,
uma pergunta que não sabe ao certo o que indaga.
É tudo quanto sinto uma alergia,
sem motivo claro,
uma textura sem sabor.
É tudo quanto quero uma quimera.
Repetição, alteração,
quimera eu.
Viver no desapique é desagravo.
Viver no alicerce da torre subjetiva.
Viver é desencontro,
talvez conquista: conquistar o que não sei se vou sonhar.
O que proclamam pós-moderno é pessimismo.
E o pessimista se ressalta realista.
E o bom leitor pula em cima da mesa e grita
que vai parar de ler tal poesia absurda.
Vai procurar um belo livro de auto-ajuda...

Laís Romero

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

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Esforço pra ver
Esforço pra cansar
Pra cantar
Qualquer quantidade
Mera qualidade
Qualquer canção
Quimera eu sucumbir
Quimera eu reagir
Na imensidão azul
Oceano
Ocê ano
Ocê amo (clichê)
Mas o que é você?
Já nascer clichê
Era sim
Era assim pra ser!

Laís Romero