terça-feira, 30 de outubro de 2007

Retalharrima

O concreto intimida
a lascívia folha te convida
e o devano tempo arrasta
Onde anda tua aurora?

As plantas desafiam
os olhos ardem secos
as mãos congelam na sala
O que perguntar agora?

Nada de beleza
talvez o cru anime
o verso feito de espinho
a falsa cor no cabelo
olhar pintado no espelho
o cheiro de gasolina
Onde esperar pela vida?

As doses de abstrato
desatam nós profanos.
As doses de absurdo
me fazem descer ao paraíso
O que fazer com as letras?

Entre dor, claridade, suicídio...
Só o passado ainda incomoda
Só o sentindo ainda alucina.

Delirante

É como a árvore que segura o firmamento
e as frutas se disfarçam de estrelas,
para mais tarde...
bem mais tarde...
derramarem suas sementes sobre nós,
e estas, estas loucas sementes
vão acabar por fecundar a poesia
a que adormece em minh'alma
e vão acabar por sepultar o meu corpo
a única conexão com esse mundo carrasco

Carrasco de dores férteis
carrasco de amores molhados,
essas flores,
esses dedos,
esses ossos,
e toda carne...

(carrrrrrrne)

Carne, palavra que escorre na garganta.
Garganta, palavra que anuncia as palavras,
palavra que delicia e,
asmática,
nos faz gozar!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

.

A sós
sois sóis
em sol maior
me vejo em nós.

sábado, 13 de outubro de 2007

Absurdos Advérbios

é uma tal absurda sensação
cheia de modos
que o sentido nunca se concretiza
a palavra nunca vai realizar
o que os poros derramam
e não posso tocar

é uma tal absurda explosão
preferiria a vida real
se não houvesse a leveza do ar
se não houvesse esperteza de ser
de ser assim advérbio-absurdo-desconexo-improviso

de ser assim
bem assim como se deve mudar
como se deve aceitar
de ser
de permanecer
na permanente
imanente
permuta humana.

e pronto!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

tensão, desabafo de uma repetição

Pois que seja poesia tudo aquilo que tenta voar, mesmo que caia e se machuque no chão!


Quero escrever algum mote diferente, parar de mergulhar, de acordar para dentro...preciso viajar, preciso desaparecer do mesmo universo que frequento, preciso não sucumbir às tentações do infinito! Quero mudar o mote, de um beijo, de uma dor de poesia para uma prosa mais concreta,... sério! Queria falar de umas pedras, ou quem sabe do país tropical em que vivo, ...mas porventura pode ser que eu venha a escrever a respeito de dores alheias e impressões apenas...
Alguma poesia que não rime de novo, que não seja inefável...eu quero algo escroto! Quero uns motes mais imundos, in-mundos, talvez mudos, ou que só saibam se mover disformes e dispostos a voar sozinhos...
quero falar de dentro mais não...
de dentro demais não
de mais não
ainda volto aqui de punhal na mão, sangrando o lirismo contido que ainda tenho, na outra mão as folhas que estavam ali, com cheiro de folha em branco, assim convidativa, maliciosa, espertinha...ah sim as folhas em branco! Chega de falar delas.
Talvez que eu escreva sobre a Lua, ou sobre um cão que estava na sarjeta,...talvez um homem - cão que dormia num banco às margens do rio Parnaíba, no meio do dia...Talvez que eu faça poesias sobre os pássaros que sobrevivem ao Caos no meio da feira livre, não, acho que nós é que sobrevivemos,...o pássaros se fartam...e são assim, como todos que têm asas: difíceis de conquistar!!!
Ainda não achei o tal mote, escreverei um livro inteiro sobre ele...O MOTE! mote desgraçado...mote sem dramalhão...sem lirismo de beira de esquina...quero uma porrada, uma pancada de Mote na cara!

e viva a madrugada sem fim!
Viva a dor nos olhos de ficar aqui imaginando motes...enquanto isso a poesia desfila inquieta na minha frente, me xinga, me desmoraliza...mereço!
Viva , mais um viva aos dias curtos....às impressões que ficam nas calçadas, é terrível não poder trazê-las até este instante!
Viva aos meus cabelos que insistem em prender os sentidos que derramam de meu crânio...

e por fim: Viva ... a sua vida ...
que eu vou procurar meu mote!

Questão perene

Pergunta do ambiente
pergunta da vida
pergunta,vai...
e a resposta vai ser
a sempre mesma medíocre
a sempre mesma mundana
imunda
a sempre mesma

quer saber?
jogo tudo na privada
todos nas privadas vidas
aqueles nós que só sabem privar
e presos querem prender
e surdos querem rosnar
rosnem
e ouçam o eterno despertar

poesia
poesia
palavra macia que desce ouvido abaixo, ouvindo adentro
que promove a linguagem
que concentra o trabalho
que desperta
aperta, por vezes, o peito

ainda
ainda
repito o mote
ainda ainda
repito a morte do lirismo
contido
indeciso
infantil
talvez que seja apenas mais uma teimosa
e, na teimosia, promovo
promoves
nas tuas vidas
nas tuas vistas
poesia

rosa (prefiro as gérberas...têm mais vida)

ainda assim num copinho, com uma água odinária dá pra ficar bonita.