quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Aforismo sobre a morte

Nesta pele a palavra escorre violenta.
E nem mesmo a dor promove poesia neste instante.
O tempo examina atento as situações inventadas,
as vozes a mudarem o tom,
o rosto no seu mais encantado relaxamento.
'É de brilho que se alimentam os espíritos.'
Pronunciam... e a palavra não se abala:
respira indômita na sua mais calma essência.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Estudos



N° 03

Os olhos perdidos alteram-se
em cores repartidas por paixão
O vento atravessa meus dedos
e perco o rumo em delírios, em vão.
Por quanto tempo mais devo
exigir dos meus domínios de desejo?
Evoco deuses, aflição inconsolável,
aperto dentes dedos fibras
vasos tortuosos entre carnes
E não há portas para onde te carrego
nem te escuto os reclames e elogios.
O querer é um desafio necessário
que moldo o vento, se possível,
no conhecido rosto do inefável.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Estudos



N° 01
Às vezes, em suspensão,
olho ao redor de tudo
o que me faz ausente

A queda é macia palavra
e sequer te sinto, estranho,
sentado ali.


N° 02
Nos levantamos juntos
e ainda assim te ignoro...
Meus motivos constantes
são puramente verbais
e o teu sorriso
[uma afronta]
não disse a que veio.



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Respiração forte

A entrega e seus mecanismos obscuros. Uma parceria, um contrato tato divino feito. Canto de olho, paralisia, tremores e a cor vermelha. Fotografias, observações milimétricas, aproximações sutis de sonhos compartilhados e estradas mal divididas.
Eu sei.
Entrega é risco, distorção por desapego e a velha conhecida saudade do que não é.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um sussurro

                                                Para ler em voz baixa. Muda.

"Um sussurro" ela falou
com doçura os sons esperam
dentro de olhos tão arredios
duma quase pronúncia rouca.

Deitada às vésperas e diante
dos passos na rua das rosas
onde ela mora (?)
os cães sempre ladram
e "um sussurro" vem por acaso.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bom conselho ou Palavras a um iludido



"Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor de cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos." 


                                                                                                           Carlos Drummond de Andrade



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Perpendiculares

Desafiar o novelo
num grito
nesta linha
perigo .

desfiar o caminho
aviso !
preciso parar
de correr o risco
da vida.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Eterno retorno


Talvez eu vá para o inferno
e leve comigo dezenas de risos descontrolados
e me pergunte por lá porque hoje é sexta-feira
e porque existem as horas
ou qual rumo devo tomar
quando meu rosto estiver salgado de raiva?
E que dia é o dia certo?
Que minuto é o minuto de voltar?

Tudo se regenera por agora
o tempo não me persegue mais.
Tenho vontade de dizer boa noite
Vírgula
mas minha mão não se consola e quer conversar
quer conversar comigo
Travessão
Senta aqui meu bem
segura o meu tendão
estou caindo e o suor frio me espera
junto àquele inferno do início
onde bocas famintas
aguardam o prato
sou apenas um jantar medroso

Boa noite.
(Ela se entrega e vai para a cama.)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pesadêlo

O corpo nu permanece deitado
e as ausências sobram sem cor quando
metáforas inesquecíveis evaporam
do ardor doentio de ser.
Não arredo pé enquanto não couberem
em mim
todas as perguntas do universo
cor, cheiro e sexo
pense o quanto quiser...
Enquanto caminho no frio
meu corpo dorme assustado
ainda nu
como nasci
nu
como morrer é. Acordo.
Eu, que nem sei como construir
um edifício multifaces.
Eu, que nem sei como consertar
os teus ombros que os mundos não cabem.
Só queria te falar
mas não consigo
nem sutil pronúncia...
Incompetência linguística, paixão...
Acordei mais uma vez
sozinha
arrependida de não tê-lo antes ficado.
Não tremo
meu corpo arde porque é preciso:
segura minhas mãos e vem comigo
que o glorioso fim nos espera.
[Fecham-se as cortinas. Suspiros]

Piada pronta


Um poema me consome neste instante.
Sacudo os pés em angústia
e minhas vísceras se retorcem
de ansiedade.
Mas eu não sei como fazê-lo...
Só sei sorrir essa mesma
velha história de sofrer
pelo poema que não se pode parir.


We are the same thing:



Terno e gravata, enfim
deitada de sapatos.
Quando eu morrer,
meu bem,
não me cite em meu epitáfio.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Envelhecer

 Sim eu quero. Às vezes não vejo a hora de  viver sem pressa, certa do meu fim, mais intensa que nunca. Quero caminhar com o mundo, na velocidade da beleza, sem mutilações estéticas nem culpas, com a cara de missão cumprida. Não quero estar nas mãos de alguém, nem quero este alguém em minhas mãos: quero estar ao lado, sorrindo com os dentes cheios de histórias, a pele palimpsesto profundo de risadas e lágrimas. Quero envelhecer muito mulher, sem estereótipos, simplesmente desdobrável. 
 Nunca desejei uma juventude eterna, tampouco ser desejada o tempo todo... era julgada na infância por ser uma menina velha demais pra minha idade... é que para mim a velhice parece permissiva e livre de julgamentos. Eu amo viver. Não estou ansiosa pelas rugas e cabelos brancos, estou apenas vivendo absurda e degustando os instantes todos... afinal, não é para isso que estamos aqui?
 Por fim declaro: quero envelhecer como as francesas. Atentai bem, não quero envelhecer na França, quero envelhecer como as francesas, entenda como queiras. E tenho dito.

quarta-feira, 23 de março de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Água viva

Sob o peso da atmosfera
temos a certeza de um sussurro
ao pé do ouvido
O vento mordido
repete os mesmos verbos:

Somos os mortais perdidos
com medo do infinito
sorrindo diante do hediondo

Somos os meninos
carregando baldes vazios
rumo ao poço dos desejos
fragmentados pelo sol

Somos enfim solitários
vadios e canalhas
presos às insinuações diárias
aos ditados desmerecidos

Continuamos de terno
soltos no meio da rua
sorrindo, patéticos e belos,
inconscientes que estar vivo,
realmente, não tem de quê.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade

Vim aqui dizer que tudo em mim é verdade. Que todas as sílabas que pronuncio, notas musicais que danço e filosofias que invento são de verdade. Vim aqui desnuda dos escudos habituais, mostrar minhas fraquezas na arena em que me propus: eu escrevo para tudo e todos, no mesmo desespero real e imutável da falta de objetivos tão humana.
Vim aqui dizer que tudo em mim é vivo e para mim isso é verdade. Vim aqui exibir o sangue quente, as letras repetitivas em estilo desfigurado. Vim aqui cheia de ossos e sonhos, aqui, bem aqui, para dizer que de verdade eu amo. Amo com tudo. E pra mim isso também é verdade. Vim lembrar que sinto tudo, que sinto muito mesmo esse sentir tudo, e que tudo isso também é verdade, mesmo que sem nome desse jeito. E todo esse tudo sem nome faz parte de mim, e mesmo que isso não seja definição esse isso tudo é verdade. E essa verdade me escapa entre os dedos quando eu choro.
E eu sou toda assim.
Eu sou de verdade.
Tudo de verdade. 

(E toda eu estou aqui, mesmo quando essa verdade não se torna poesia. Danem-se os mestres, hoje eu só quero escrever e vender ao preço de uma leitura.)

sábado, 15 de janeiro de 2011

The slow drug

Escreve-se pouco.
Vive-se menos ainda.
Não tenho atração pelos pastiches ou simulacros da pós-modernidade. Nem acredito nela. Ou neles. Interessam-me mais os insetos que me fazem companhia sincera e silenciosa nas noites insones. Meus olhos doloridos em um sono surreal que carrega consigo o peso de vidas e mais vidas.
O sorriso alto quebra as especulações de dias tristes. Eles se afastam. Se você não me entender não tem problema... estamos quites. E das trocentas frases feitas, dos milhares de amores expostos, das relevâncias estripadas em espaços tão tangíveis quanto meus pensamentos, eu venho aqui leve, irrelevante e surda para dizer o que você já sabe. Para dizer o que não tem interesse, não tem vergonha... menos ainda uma razão de ser.
Volto aos insetos que não me encaram, apenas vivem, sem uma linha escrita ou a preocupação de um legado qualquer eles transitam. Encaro como uma sabedoria esse comportamento e me retiro de cena... silenciosa e inferior. Eles me ignoram à medida que me intrigam.
Hoje foi um dia perfeito, como qualquer outro teria sido.