sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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Acordo com os olhos ainda fechados e peço que os sentidos saiam pela minha boca, pois pelos olhos os sentidos não alcançarão onde quero tocar. Reverberar os centímetros de asfalto quente ao meio dia, restaurar as crateras no rosto daquela senhora parada no ponto de ônibus, fazendo careta do calor que sobe democrático. Somos todos um só, somos todos um som, sou uma reescritura sagrada por ser música, sofrida por ser poesia, louca por ser em prosa. Quero apenas conversar. Entonação de voz mais limpa possível, clareza, olhar escuro e tenso, ... apenas conversar. Não garanto que algum vá me ouvir, por isso mesmo que escrevo, ouvindo uma música que me guia extraordinária. Algo pesado me consome por esses dias e as palavras não me saem como deveriam, tenho uma gestação frustrada atrás da outra, sou uma alma se tornando pedra, queimada pela fogueira de alguma instituição revoltada e incompleta, estou afogada, maculada, destruída, sem rumos nos meus cantos. Nada me salva. O que me resta é uma tristeza latente, meu vício maior, e que eu fujo desnorteada, com o perigo em meus calcanhares fracos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Depressão pós pós

Insistência e necessidade, as duas ordens dos dias que venho passando sem conseguir o velho impulso que me guiava a escrita. O peso das coisas tem triplicado, e as dores sendo mais agudas (sim eu sofro de dores crônicas), tudo se encarrega de me deixar em um estado letárgico, como se minhas mãos estivessem cortadas e caídas ao chão. Sofro por não conseguir concretizar os devaneios e imagens em poesia, sofro por não mais conseguir a esfuziante paixão por algo que eu tenha parido nas entrelinhas. É um vazio pós parto que me domina, um vácuo entre obras, uma inexatidão, imprecisão, um descompasso, desconsolo, desapique e o que mais se queira traduzir essa falta de expressões e construções. Me sinto derrotada, mas quem se importa? Talvez se eu cortasse uma orelha, se eu quebrasse uma perna em cena, se eu mudasse de profissão ou ainda criasse um drama de proporções faraônicas ou me aventurasse numa odisséia... talvez eu morra no talvez. Quero uma explosão, estou cheia de fragmentos e restos. Algo grande se aproxima.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ato máximo

atirei meu coração aos lobos
e
por puro prazer estético
eles o mantém ainda vivo

sábado, 9 de janeiro de 2010

De quando a rua foi engolida por um dragão de nuvens

Vamos começar. Seriedade demais cega, e eu ainda quero achar lindo o nevoeiro que cobriu o prédio da esquina. São pelo menos dez quadras de distância, dezenas de passos, e meus olhos não veem dez palmos adiante. É um prédio enorme e ficou tudo branco, um véu sem cheiro, sem textura, mas que carrega tanta vida. Eu sabia que na beira do rio estava mais denso, uma dança contra as luzes do poste e o que eu mais queria era estar lá, só para ver mesmo, só para admirar com força, bem forte e terrível, assim até chorar o desespero da feiúra diária ao meu redor. É cansaço. Queria pegar na mão mais próxima e adentrar naquela nuvem que desceu ao chão, correr desesperada como quem foge de onde não se pode fugir.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

UniVerso.

Escrevo desde os dez anos de idade. Escrevo há mais de dez anos. Estamos em 2010. Esperava que no passar daquela madrugada, ao acordar com os amigos, eu encontrasse alguma resposta ou alguma inspiração arrebatadora, eu achava que o tempo iria trazer de graça e com graça um algo mais que me completasse. Mas o diverso se traduziu triste e desencanto, o mundo muitas vezes não é bonito: a incompletude me trouxe bem mais. Tenho feito menos tempo, encontrado fios de prata em minha cabeça, correntes que me puxam ao chão. O que me preocupa é se ainda terei disposição para encontrar o ritmo do antes do antes, algumas pessoas chamam isso de sentido da vida, origem de tudo, outras chamam de parte que compõe todos... concordo com todas elas, e digo mais: se compõe é música, tem ritmo, pode ser tocado em todos os sentidos.
Preciso delirar com segurança, tenho medo de me perder.
Não deveria ter escrito este texto, mas ele já nascido e independente caminha por aqui, é uma divagação, um ensaio, e para quem não sabe: divagar se vai ao longe, é por isso que sigo à risca o divagar e sempre.
Me guardem com carinho, pois aqui faço tudo de propósito.