segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Perhaps, perhaps, perhaps...

Andava cercando o parceiro há dias... Numa hora espremida entre um salgadinho gorduroso e uma cerveja na chuva resolveu abrir-se. Uma tentativa de se livrar de situações estranhamente presentes. Situações que não lhe pertenciam...

- Nada.Quero nada.

- Sabe como se sabe disso?

- Não.

- Quando o perfume não se mostra nas horas, e as cores derramam-se das coisas, assim bem honestamente.- Ele mantinha os olhos escuros de raiva anterior, e as doces palavras a escorrer como que um encanto. O dono das contradições mais deliciosas.

- Como assim honestamente?

- Sabe o que é sinceridade?

- Soube um dia desses...

- Pois é, é quase a mesma coisa.

- Como é que cabe um quase dentro da sinceridade?

- Do mesmo jeito que cabe uma dúvida no amor.

- Tipo perhaps?

- Não.

- Então me mostra...

- Não.

Levantou-se raivosa atravessando a calçada suja. Vestiu uma jaqueta jeans: chovia naquela noite e achava a jaqueta um detalhe urbano excepcional. Um sorriso desesperado de quem não sabe ou não quer sair do áporo. Vício. Passados alguns ônibus a antiga dor no peito a perturbava. Praguejando contra a constelação de Orion, que supostamente a protegia, levantou-se e decidiu caminhar. Maldito José Matias!

Dois quarteirões depois entrava no carro.

Um beijo desesperado.

De volta ao áporo, velho vício de drama de novela.

Um comentário:

Cacau disse...

parabéns pelo texto, Laís.