domingo, 11 de outubro de 2009

medíocres & prepotentes

Eu não sei escrever. Não sei recitar. Eu não nasci com um dom. Não ganhei nenhum prêmio literário. Não sou famosa no sudeste do Brasil. Não me formei num curso de Direito. Não sei desenhar, nem pintar, nem esculpir. Não publiquei nenhuma obra com 18 anos. Não revolucionei a sintaxe de minha língua. Não sou regionalista, nem ufanista, nem 'ista' nenhum. Não moro em Brasília, nem no Chile. Não sou marginal, nem alternativa, nem punk. Não falo 4 línguas, nem inventei uma. Não danço ballet, nem aprecio quem o faça. Não sei dançar. Não canto, nem toco nenhum instrumento. Não fui presa na ditadura, nem torturada. Não escrevi um best seller sobre minha prisão em 64. Não morri de tuberculose. Não me suicidei na Segunda Guerra. Não comprei ações e fiquei milionária. Não sou diplomata. Não escrevi cartas quando era diplomata. Não deixei minha amante morrer afogada. Não salvei poesias de um naufrágio enquanto minha amante morria. Não sei tudo de gramática. Não me formei em Português. Não tenho nome de flor. Não mudei meu nome. Não me casei com um filósofo famoso e suicida. Não tenho heterônimos. Não sei jogar xadrez. Não fiz cinema mudo. Não fiz cinema. Ninguém chorou em meus filmes. Não sou uma psicopata, nem sociopata nem nada disso. Sou o abstrato, o fim e o meio, o propósito e a falha.
No instante em que decifro o código que me faço sentido, existo, humana e ordinária.

7 comentários:

Aline Chaves disse...

rá^^
mentirosa!
excelente como sempre^^

Anônimo disse...

idem.

Universo Cidade disse...

. Não salvei poesias de um naufrágio é uma frase tão bonita! mas saltou aos meus olhos sem eu pagar o contexto todo! e a maioria do que falou no texto é referencia a outras pessoas , quem salvava poesias quando a amante morria? camoes? gregorio de matos?

Laís Romero disse...

Foi Camões o assassino. ^^

Anônimo disse...

Nossa, mais um peixinho para me acompanhar nas rodas. Amei teu texto...

lapis nos olhos disse...

po, muito louco o texto, gostei bastante

samuel

Breve Leonardo disse...

ocorre-me de Sá-Carneiro

[Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.]

um pouco de tudo, um pouco de nada, é o intermédio deste carreiro.

Um imenso abraço
deste lado do ribeiro atlântico

Leonardo B.

Bizarril/Portugal