domingo, 20 de julho de 2014

Resenha da semana: 'Nas tuas mãos', de Inês Pedrosa





Inês Pedrosa foi uma dessas autoras que surgiu em minha vida ao delicioso acaso da busca na livraria. Percorrer despretensiosamente prateleiras com um olhar atencioso, acreditando que vou encontrar alguma leitura que me surpreenda, algo que me arrebate as horas de leitura num átimo de tempo, num segundo denso. Foi assim. Encontrei a obra Nas tuas mãos.  A atual diretora da Casa Fernando Pessoa é uma jornalista que pode ser facilmente encontrada no Twitter, e que conquista em seus romances pelo ar melancólico e as palavras macias. Nascida em Portugal em 1962, atuou nos principais jornais de seu país natal. O romance aqui resenhado foi laureado com o Prêmio Máxima.
Em Nas tuas mãos, encontrei três gerações de mulheres descrevendo/escrevendo suas vidas, suas faltas, seus desejos e desesperos. A linguagem é inteligente, leve, e o delinear das personagens é feito diante das experiências de cada uma. A primeira parte, O diário de Jenny, reverbera a tristeza da geração mais antiga da família, as lacunas do discurso evidenciam segredos. Sendo Jenny o sujeito desta parte do romance, é compreensível (eu diria até que é de dedução fácil) que se veja a complexidade de apenas um lado da história. O tom de exposição e confissão, a dor na sua mais viva exibição: o diário, as palavras em primeira pessoa, memórias e incursão no universo da invenção e das alegorias. As páginas de um diário são as sensações quase que no calor dos acontecimentos. Em um olhar pessoal, foi o momento de grande prazer de minha leitura. Há ali uma entrega romântica, apoiada em um sofrimento que veste bem o perfil da narrativa e se comunica profundamente com as narrativas posteriores. Abrir a leitura com o íntimo de um diário foi, de longe, um laço no leitor que escolhe esta obra para desvendar.
A segunda parte chega com dureza, fotografias que se sobrepõem a ensaios feitos pela personagem deste álbum: uma espécie de antologia de capturas dos momentos da árvore que compõe a vida da narradora desta parte. Em O álbum de Camila há o instante e a narrativa. Mais uma vez há a exposição da dor, que perde seu tom melancólico do capítulo anterior para ganhar uma cor mais forte, como um acordar após real pesadelo. As experiências ganham uma descrição minuciosa, bem como um patamar intertextual evidenciado.
Intitulada As cartas de Natália, a terceira parte se comunica diretamente com a primeira e fecha as pontas das histórias cruzadas deste romance. Inês Pedrosa escolhe palavras como quem desfia um tecido leve, ao mesmo tempo que maltrata a carne na escolha de um enredo que toca no cerne da memória. Três gerações de mulheres: perpetuação de segredos, pactos. Um universo complexo e silencioso, que observa de dentro de baús e em antigos porta-retratos. 
A leitura deste romance é fácil, não desafia esteticamente, mesmo tendo uma mudança significativa da forma como é escrito de capítulo a capítulo. O que captura o leitor é a melancolia que aparentemente nasceu com a escrita em português, o time contemporâneo de escritores portugueses, quando elencado pela crítica em geral, cita nomes conhecidos por serem melancólicos e/ou pessimistas. O enredo de Nas tuas mãos é a porta convidativa, a intrigante mão que segura a atenção (tensão) do leitor. Ler este romance causa dor.

2 comentários:

ANJO TORTO disse...

Acho a Inês Pedrosa tudo de bom!!! Faz-me falta me emocionou profundamente!!!!

Patrícia Rameiro disse...

Que lindas! Inês e Laís! Invejo quem tem tempo pra leitura-puro-prazer! E pode andar despretensiosamente em busca de... Eu li tão pouco que ainda me falta tanto! E em livrarias sei exatamente o que me falta. Tenho trinta listas de ausências! Por isso já sei exatamente o que quero em livrarias.
Beijo Laís!
Qquer dia te vejo!