terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Um conto

Deitada no sofá, naquela pose bem retrô, cabelos quase atravessando o chão, olhos caídos e densos.
Se mantinha com a postura leve, mas os passos e mãos pareciam amarrados sempre que possível, tradução do improvável, manipulação: jogos de armar.
Gostava de se esconder na noite pesada. Plúmbea madrugada, morada da cor de seus olhos loucos. Nascida em flor azul, traduzida de línguas extintas, línguas mortas, esculpida em colunas gregas, em face ao mar, cheiro de orvalho salgado. E sucumbia a qualquer insano prazer, mas na medida de suas indagações resolvia/revolvia feridas no compasso acelerado da volta à realidade comum responsável: era sua melhor fotografia.
Se fosse possível olhar agora seria notável sua pose grave, os olhos rasgados na face. A boca esculpida em pedra fria guardava quente veneno, perdas e danos de uma criatura inconstante. Escandalosamente espalha sorrisos pelo vento numa tentativa desesperada de curar o desapique do peito.
No meio de tantos suplícios, no travesseiro das lamentações, no decorrer da história em tinta preta, encontrou o brilho de outros olhos atenciosos. Estes seus que sempre marejavam diante da extensão insuportável que pode ser a vida, estes seus olhos que muito trabalharam na focalização do belo... estavam ali, brilhando frente à luz.
O amor é formidável.

4 comentários:

Anônimo disse...

;DD

mas é bom demaaais ler!

Anônimo disse...

formidavel mesmo.
é brilhar como o sol.

beijos e saudades.
pbasquiat

Vera disse...

Adorei o conto!! Parabéns!

Também gosto de escrever.

;-)

Pedro Leonardo Magalhães disse...

Ora Ora... hehe
linkada tb
teus textos soam sonhos contados...
adorei