sábado, 10 de maio de 2008

Inerme.

Acordou assustada. Não entendia bem o motivo do susto, apenas sentiu o suspiro invadir-lhe o corpo de forma abrupta, apenas deixou-se tomar pelas tramas internas, pelos dias anteriores, pelos apertos na garganta tantas vezes amarrados.
Sentou-se. Ali, as horas não iriam passar. Era como se no momento da indisposição o mundo inteiro mergulhasse no vidro, tudo pausado, petrificado, uma pequena morte.
Doía-lhe a cabeça, e os olhos permaneciam com toneladas de devaneios. Esticou as pernas produzindo ruídos que acordavam nervos e veias...
Fez uma breve menção de levantar-se, mas ainda não poderia. Os devaneios estavam por demais pesados. Olhou em volta: o chão continuava sujo, papel em toda parte, cabelos que haviam caído, algumas roupas e o frio da noite. Estava confusa no quarto, crescente desejo de se encontrar.
Olhou o corpo marcado dos lençóis que passaram a noite tentando adentrar na pele, sentiu a areia que ainda incomodava os olhos.
O susto ao acordar não fora suficiente para que se levantasse, não havia nada que a fizesse acreditar. Não. Nenhuma negação, nenhum impulso, nenhuma pulsação. Tudo aquilo era vazio o suficiente para mantê-la inerte. Preenchido de vastidão, o ar parecia pantanoso, atmosfera que causava-lhe danos trazidos pelos sussurros da brisa, sem forças, sem calor.
Finalmente o Sol invadiu o recinto. A noção de tempo veio com ele. Olhos fechados com força.
De pé.
Ensaiou passos trêmulos até a porta, encostou-se na parede, sensação de desamparo. Mas como? Tinha tanto tudo... cada pedra que se podia sentir o peso, sentia as mãos alheias lhe atravessar o corpo, cada peça de roupa, cada cor na pálpebra, uma costura no juízo. Todo o vazio do mundo. Todo o sentido de insuportável viver. A falta de saúde de ter nascido.
Tinha tanto tudo tanto!
Se sentia, no âmago, uma cicatriz na terra.
De volta à cama recostou a cabeça nas mãos (quase sempre vazias). Foi cerrando os olhos, cortando vagarosamente a paisagem do quarto minguante...
A ultima visão que teve fora umas tantas madeixas negras se movendo à brisa matinal. Se permitiu o prazer de querer alguma coisa: sonhar.Talvez sonhar-te.

6 comentários:

Aline Chaves disse...

essa bicha...
dá pra dizer nada...
ai ai

beijo!

Zorbba Igreja disse...

Muito bom morena!

Bjos!

L-nise disse...

Lindo, Laís.. Linda!

Pensamentos Demasiados de Lucidez... disse...

liiiiiiiiindo.
sinceramente..sempalavras pra descrever a sensação d ler esse texto, mas saiba que é muito boa!

bjo.

Lorena A. disse...

absurdooooo!
quando crescer quero escrever que nem você.

bj

José Augusto Couto Sampaio Neto disse...

vc ecreve realmente bem.......!profundo!....até...